Título: BrT vai cobrar despesas de R$ 361 milhões a Daniel Dantas
Autor: Vannildo Mendes e Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Economia & Negócios, p. B9

Auditoria feita pela Brasil Telecom (BrT) constatou que o banqueiro Daniel Dantas usou dinheiro da empresa em grande escala e de forma continuada, entre 2001 e 2005, quando esteve no seu comando, para pagar indevidamente despesas pessoais, do seu banco, o Opportunity, e de executivos a seu serviço. O prejuízo até agora apurado chega a R$ 361 milhões, segundo informou ontem a nova diretoria da BrT, hoje controlada pelo Citigroup e por fundos de pensão. Só com o leasing de três jatinhos, que serviam a Dantas, a executivos do Opportunity e a aliados políticos do banqueiro, foram gastos R$ 66 milhões. "A BrT pagava 70% da conta e desconhecia se algum executivo da operadora usava os aviões", disse o advogado da BrT, Francisco Costa e Silva.

Dantas, conforme a auditoria, usava seu poder para canalizar recursos da BrT para o Opportunity, sem conhecimento e aprovação dos demais acionistas. Um disso foi o empréstimo de US$ 43 milhões da BrT para que o Opportunity comprasse ações da Telemig e da Amazônia Celular. "Todo o risco da operação ficou com a BrT e o lucro com o Opportunity", informou o vice-presidente da operadora, Charles Putz. Ele alega que o prejuízo com esse negócio chegou a US$ 108 milhões.

Entre outras despesas com dinheiro da operadora, Dantas pagou cerca de US$ 1 milhão à assessora americana Roberta Fisher por dois anos de serviço. Também remunerou 11 pessoas do Opportunity com R$ 3,5 milhões por apenas dois meses de supostos serviços. Uma delas, Danielle Silbergleid, levou mais da metade desse valor, algo como R$ 1,8 milhão, por uma jornada de quatro horas por dia.

Embora estivesse oficialmente a serviço da BrT, Danielle assinava correspondências e e-mails como funcionária do Opportunity. Trata-se da mesma pessoa que ficou ao lado de Dantas no depoimento à CPI do Mensalão, há dois meses.

A auditoria constatou também que a operadora pagou pela decoração e o aluguel do escritório do Opportunity em São Paulo. A empresa acionou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para que sejam apontados e punidos os responsáveis pelas fraudes. Decidiu também mover ação civil para ressarcir os danos e, caso se confirme crime, enviará os dados ao Ministério Público com pedido de ação penal. As irregularidades encontradas vão desde gestão fraudulenta a desvio de dinheiro para atividades indevidas.

O Opportunity negou as acusações e informou, por sua assessoria de imprensa, que tomará as medidas judiciais cabíveis contra o que qualifica de "afirmações mentirosas e sem fundamento do sr. Charles Putz". Informou ainda que não é coincidência que essas acusações "fictícias" venham à tona às vésperas de decisões judiciais que, em última análise, envolvem o controle da Brasil Telecom.

Em maio de 2005, a Brasil Telecom fechou contratos de R$ 50 milhões com as agências de publicidade DNA e SMP&B, do empresário Marcos Valério de Souza, à revelia do Departamento de Marketing e sem o conhecimento dos demais sócios da operadora. Os contratos foram revogados um mês depois, com a eclosão das denúncias envolvendo o empresário num esquema de caixa 2 do PT.

O valor dos contratos é próximo dos R$ 55 milhões pagos pelo chamado "valerioduto" a partidos e parlamentares da base aliada em 2003 e 2004, sob orientação do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Valério e Delúbio declararam às CPIs do Mensalão e dos Correios que o dinheiro, não contabilizado, era oriundo de empréstimos de R$ 63 milhões obtidos junto ao BMG e o Banco Rural.

As investigações da Polícia Federal e das CPIs comprovaram, porém, que a versão dos empréstimos era forjada para justificar os repasses. "Seria leviano fazer conjectura e deduzir que esse dinheiro seria para financiar o 'valerioduto', mas os dados estão aí à disposição das autoridades", disse o advogado da empresa, Francisco Costa e Silva.