Título: Governo fecha ano com aprovação no vermelho
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Nacional, p. A4

O ano terminou no vermelho para o governo petista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: na última pesquisa CNI/Ibope em 2005, há mais brasileiros contra o governo e o presidente do que a favor deles. Os brasileiros que confiam no presidente Lula (76% em junho de 2003) hoje são apenas 43%; e os que não confiam (19% há um ano e meio) agora chegam à maioria de 53%. Os brasileiros que aprovam o governo Lula hoje não passam de 42% (eram 70% em junho de 2003); os que desaprovam - eram somente 18% um ano e meio atrás - agora atingem os 52%. E o pior, adverte o cientista político Antônio Lavareda, da MCI Estratégia, é que todos esses indicadores apresentam viés de baixa.

A avaliação é muito diferenciada por regiões. Como tem sido desde o começo do governo, as melhores avaliações vêm do Nordeste, única região em que a maioria ainda confia no presidente (52% a 45%).

Entre os homens, metade confia em Lula e metade não confia (48% para cada lado); mas as mulheres tomaram claro partido: 37% dizem confiar, mas 58% não confiam mais.

A única notícia razoavelmente boa que a pesquisa CNI/Ibope traz para o governo é que o brasileiro está otimista com a vida e com o País, embora não credite ao governo as circunstâncias que construíram esse otimismo, assinala Lavareda.

Márcia Cavallari, diretora do Ibope, diz que nem tudo está perdido para o presidente, embora a reversão dos indicadores negativos seja difícil por estarem associados a suspeitas de corrupção, que agora mostram fortes respingos no presidente, anota ela. Mas Lula pode vitaminar a sua avaliação positiva a partir de maio, quando será anunciado o aumento do salário mínimo.

AUMENTO E VOTO

Segundo Márcia, historicamente os presidentes que dão bons aumentos para o salário mínimo são beneficiados com imediatos aumentos de popularidade (o inverso também é verdadeiro, diz ela). Fora isso, as chances de Lula reverter os índices negativos estarão todas amarradas ao desempenho do governo no decorrer do ano. Um bom desempenho, com a entrega de muitas realizações de porte e visibilidade, por exemplo, pode ajudá-lo e melhorar os índices.

A pesquisa CNI/Ibope mostra que está crescendo o número de brasileiros que acham que a crise política acabará afetando a economia. Eles já são 48% (40% em setembro). Mas expressiva maioria, 66% (73% em setembro), declara que não está alterando os seus hábitos de consumo. A maioria (39%) acha que a eventual saída do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não ameaçaria a estabilidade da economia, enquanto 33% acham que sua saída poderia criar condições de instabilidade.

Há números que ainda não são um desastre para o governo, como a avaliação do governo Lula em relação à expectativa inicial do eleitor. Para 20% dos eleitores, o governo Lula é melhor do que eles esperavam; para 32%, é igual; e para 46% é pior. Apesar do alto índice crítico, os que não se decepcionaram com o governo ainda são maioria no eleitorado.

Outro aspecto favorável ao governo é que a maior parcela do eleitorado brasileiro (39%) ainda considera que o governo Lula é melhor que o governo Fernando Henrique Cardoso; 28% acham que os dois governos se igualam; e 30% (índice que tem subido a cada pesquisa) acham que é pior.