Título: Congresso decide trabalhar nas férias
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Nacional, p. A10

O governo não conseguiu evitar o funcionamento do Congresso no recesso parlamentar e esfriar a crise, que já dura sete meses. Os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), convocaram ontem extraordinariamente o Legislativo na tentativa de acelerar as cassações de deputados acusados de envolvimento no mensalão e as investigações das CPIs dos Correios e dos Bingos. Ao anunciar a decisão, Renan afirmou que o recesso serviria para dar "fôlego para os culpados" e não poupou críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A paranóia inventou até um golpismo midiático", disse, sem citar Lula, que na semana passada chamou setores da oposição de golpistas. "Para aqueles que sugerem conspirações e maquinações antidemocráticas, está aí o mais expressivo exemplo de que as instituições estão sólidas e exercendo suas funções com independência."

A data da convocação e a agenda de votações ainda estão indefinidas e dependem de acordo entre Aldo e Renan, que só se estranharam nos últimos dias. Sentado na cadeira de Aldo enquanto presidia a sessão do Congresso, Renan cobrou publicamente uma definição.

Ele começou a preparar seu discurso de manhã, antes mesmo de Aldo se render à pressão dos líderes dos partidos e aceitar a convocação. Ao defender a convocação, Renan reafirmou a independência do Congresso. "O dia-a-dia demonstrou que não há vassalagem e o Legislativo não é uma possessão do Executivo. A genuflexão, definitivamente, não é a nossa vocação."

Além das divergências entre os presidentes das duas Casas, o debate sobre a convocação mostrou, mais uma vez, a desarticulação da base governista. Aldo não conseguiu apoio dos aliados do Planalto para barrar a crise e a repercussão negativa do pagamento de salários extras. Ele avaliou que, com o recesso, o desfecho dos processos de cassação ficaria para março, dando uma trégua à crise.

"O custo é uma discussão menor e não pode ser comparado ao desgaste e à frustração da sociedade caso os trabalhos da CPIs não prossigam", respondeu Renan, tentando diferenciar sua posição. De olho no calendário eleitoral, raciocinou que é melhor avançar nas CPIs e nos processos de cassação. Renan prometeu rigor ao adiantar que fará um controle da presença dos parlamentares e, se necessário, cortará o ponto dos faltosos. O senador se comprometeu também a não autorizar viagens para missões oficiais.