Título: Em nome da posse, até corrente vale
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Nacional, p. A12

Apego ao mandato é isso aí. Agastado com a demora da Câmara em empossá-lo, o suplente de deputado Chicão Brígido (PMDB-AC) se acorrentou ontem a uma cadeira no plenário da Câmara. Chicão queria que fosse cumprida uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que mandou a Mesa da Câmara declarar a perda de mandato do deputado Ronivon Santiago (PP-AC) e dar-lhe a vaga. Ronivon foi cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Acre, em 2002, por ter oferecido R$ 100 a eleitores que votassem nele e em seus aliados. De recurso em recurso, no entanto, o pepista foi adiando sua degola. O truque perdeu força em 8 de dezembro passado, quando a Câmara recebeu ofício do presidente do STF, Nelson Jobim, determinando que a Mesa tirasse o mandato de Ronivon. Mas, até ontem, nada de Chicão tomar posse. Foi assim que, pelas mãos do criativo deputado acreano, alguns metros de grossas correntes e um forte cadeado dourado entraram na paisagem do plenário - que, de tão democrática, aceita tudo.

Eleitos para a Câmara em 94, Ronivon e Chicão tiveram suas biografias marcadas por indícios de envolvimento em corrupção e falta de decoro. Em 97, foram acusados de receber R$ 200 mil para votar pela emenda da reeleição. Foi aberta sindicância e os dois renunciaram. A investigação absolveu Chicão, que depois foi acusado de ter "alugado" o mandato para a suplente Adelaide Neri (PMDB-AC). A Câmara o absolveu e condenou Adelaide. Chicão nega ter recebido dinheiro para apoiar a reeleição e criticou a imprensa. Ele acredita ser o homem público que mais "apanhou" da imprensa em sua vida política.