Título: Câmara barra cassação de Queiroz
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Nacional, p. A12

O deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) foi absolvido ontem pela Câmara: 250 deputados votaram contra a cassação de seu mandato e 162 a favor. Houve 22 abstenções, 1 voto nulo e 8 em branco. Do total de 513 deputados, 443 votaram, quórum baixo que acabou por beneficiar o parlamentar acusado pela CPI dos Correios de receber dinheiro do esquema do caixa 2 do PT, o mensalão. Para a cassação de um mandato são necessários, no mínimo, 257 votos. Assim que terminou seu discurso, Queiroz previu que seria absolvido e calculou que teria 300 votos. "Pelo menos 100 deputados trabalharam para fazer justiça a meu mandato", disse ele. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), favorável à cassação, perdeu a esperança antes mesmo do início da votação: "A situação é perigosa. Ele pode ser absolvido. Isso vai beneficiar todos os outros."

O julgamento de Queiroz, de fato, teve simbologia especial. Ele foi o primeiro da fila dos 11 acusados de se beneficiar diretamente do esquema montado pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares a enfrentar o processo de cassação no plenário.

Sua absolvição foi apoiada pelo PT - o próprio Queiroz calculava que teria os votos de 50 dos 81 deputados petistas -, pelos partidos da base do governo e pelo PFL, todos com parlamentares envolvidos no mensalão. Livre, Queiroz significa esperança para todos os outros que estão com a corda no pescoço.

A situação de Queiroz foi muito diferente da de Roberto Jefferson (PTB-RJ) e José Dirceu (PT-SP), este cassado depois de ser apontado como suposto chefe do esquema de corrupção, e aquele por ter denunciado o mensalão sem provas. Jefferson perdeu o mandato pela ira do PT e dos demais partidos da base governista porque denunciou o mensalão. Dirceu foi cassado porque contra ele atuaram os partidos de oposição, como PSDB, PFL, PDT, PV e PSOL, e porque acumulou ao longo de sua trajetória política uma espécie de aversão geral.

No caso de Queiroz, prevaleceu, como sempre, o espírito de corpo. Ele disse que recebeu R$ 452.812,76 das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Mas garantiu que não ficou com nem um centavo. Do total, afirmou, R$ 350 mil tiveram origem no PT e foram integralmente repassados ao diretório nacional do PTB; R$ 102.812,76 saíram da Usiminas via Marcos Valério e foram entregues a candidatos do PTB e de outros partidos coligados em 20 cidades no ano passado.

DISCURSOS

"Faz mais de 120 dias que perdi a visão da alegria e do entusiasmo", disse Queiroz à platéia, que ficou atenta enquanto discursava. "Mas fortaleci a perseverança e a esperança para que o senso de justiça prevaleça."

Nelson Trad (PMDB-MS), que substituiu o relator, Josias Quintal (PSB-RJ), que teve um enfarte, pediu sua condenação até porque, lembrou, o julgamento era simbólico. "Votem não (à cassação) os que querem abrir o portão para que saia a imensa fila dos que se renderam à fraqueza; votem sim aos que desejam preservar o nome desta instituição. Se querem fechar a porteira para que não saiam os que pegaram o dinheiro sujo, votem sim", pediu ele.