Título: Bush admite erro na invasão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Internacional, p. A17

Na véspera das eleições parlamentares iraquianas de hoje,o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, admitiu ontem que a decisão de invadir o Iraque baseou-se em dados errôneos dos serviços de inteligência. Ele reiterou, no entanto, ter feito a escolha correta ao invadir o país árabe e depor o ditador Saddam Hussein. "Saddam era uma ameaça", disse ele. "O povo americano e o mundo estão salvos, porque ele (Saddam) não mais está no poder", acrescentou Bush em seu quarto e último pronunciamento de defesa da estratégia militar e política de seu governo para o país árabe.

Bush disse que muitos serviços de inteligência julgavam que Saddam dispunha de armas de destruição em massa e, posteriormente, comprovou-se, estavam errados. "Como presidente, sou responsável pela decisão de ir ao Iraque. E tenho também o dever de corrigir o que está errado, melhorando nossos serviços de inteligência. É o que estou fazendo."

O presidente americano insistiu em que Saddam era uma grande ameaça e aguardava apenas uma chance para retomar seu programa nuclear, voltado para a fabricação de armas de destruição em massa.

Bush prometeu estabelecer uma democracia modelo no Iraque "vai estimular as oposições no Irã e na Síria a tomarem o poder". Sobre as eleições de hoje, ele reconheceu que elas não vão resolver os problemas do país do dia para a noite. Para ele, processo eleitoral será lento. "Levará algum tempo para se saber quem venceu, levará tempo também para que formem um governo", estimou. Mas repetiu um argumento freqüente: "Devemos lembrar que um Iraque livre nos beneficia. Será um foco de esperança."

Por fim, dirigindo-se aos americanos descontentes com a forma como ele monitora a guerra e pedem uma retirada imediata, reafirmou que as tropas americanas permanecerão no Iraque até a vitória final. "Estamos ali atualmente porque nossa meta sempre foi mais do que apenas derrubar um ditador brutal. É deixar um Iraque livre e democrático."

O presidente acusou seus críticos em Washington, muitos dos quais apoiaram a invasão do Iraque, de fazer "uma pura jogada política".

Uma pesquisa feita pelo instituto Gallup e divulgada ontem pela CNN revela que 59% dos americanos reprovam a estratégia iraquiana da Casa Branca. E no Senado, 40 senadores democratas e um independente assinaram um documento em que pedem ao presidente "maior franqueza" quando ele se dirige aos americanos e iraquianos.

ATO PATRIÓTICO

Bush aproveitou a oportunidade para pedir à Câmara de Representantes a prorrogação do Ato Patriótico, um conjunto de leis de exceção para combater o terrorismo, cuja vigência termina dia 31. O apelo foi atendido horas depois. A prorrogação foi aprovada por 251 votos a 174.

O Ato Patriótico, considerado pela Casa Branca uma poderosa ferramenta contra o terrorismo, é condenado pela minoria democrata, por alguns republicanos e por grupos de defesa dos direitos civis. Entre outras medidas, essa legislação permite vigiar suspeitos de envolvimento com grupos terroristas, investigar documentos privados de instituições e pessoas, prisão de suspeitos sem culpa formada e interrogatórios intensivos. Muitos dos dispositivos de segurança adotados nos vários sistemas de transporte coletivo são garantidos por essa legislação. Os democratas e ativistas de direitos humanos acham que ela concede poderes excessivos ao Estado e afeta a privacidade dos cidadãos. Um grupo de democratas promete barrar o Ato Patriótico no Senado, que votará a medida nos próximos dias