Título: CPI rastreia altas somas de origem incerta nas contas do casal Valério
Autor: Diego Escosteguy, Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2005, Nacional, p. A11

Depósitos em dinheiro vivo, mas sem identificação, somam R$ 1,9 milhão; para CPI dos Correios, recursos vieram de caixa 2

A CPI dos Correios acredita ter descoberto indícios consistentes de que dinheiro de caixa 2 entrou nas contas pessoais do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e da mulher dele, Renilda Souza. Peritos da CPI já detectaram que as contas dos dois foram abastecidas com grande quantidade de depósitos em dinheiro vivo sem origem determinada. A quebra do sigilo bancário do casal revela que entre 2000 e 2004 foram feitos depósitos cash de aproximadamente R$ 1,9 milhão em suas contas, sem origem conhecida. Se forem computados outros depósitos em dinheiro, mas com origem declarada, esse total sobe para cerca de R$ 2,5 milhões.

Alguns dos valores envolvidos nas operações são altos. Em apenas uma dessas movimentações, no dia 22 de outubro de 2002, Renilda recebe um depósito em espécie de R$ 300 mil. Em 6 de agosto de 2003, são depositados R$ 85 mil em dinheiro na conta de Valério e mais R$ 80 mil na conta de Renilda.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator de Movimentação Financeira da comissão, acha os depósitos "suspeitos". "É uma descoberta intrigante, porque aparentemente trata-se de dinheiro de origem escusa."

As movimentações descobertas pela CPI começam a ser registradas a partir de 6 de janeiro de 2000. Ao todo, Marcos Valério recebeu em suas contas 76 depósitos em dinheiro, sendo 7 com origem conhecida.

Mesmo assim, dois deles são feitos por Cristiano Paz, sócio do empresário, dois pelo próprio Valério, um por Renilda e outro pela empresa Tolentino e Associados, que tem também o empresário mineiro entre seus proprietários. Segundo a CPI, entradas de dinheiro nas contas de Valério ocorrem até 1º de abril de 2004. O total chega a cerca de R$ 1,59 milhão.

Já Renilda recebeu apenas nove depósitos em espécie, mas de valores elevados. Eles foram feitos de 22 de fevereiro de 2002 a 8 de março de 2004. Cinco têm origem desconhecida, somando R$ 530 mil. Quatro são conhecidos e envolvem empresas de Valério ou a própria Renilda.

A DNA Propaganda é responsável por duas das entradas (R$ 98,2 mil e R$ 50 mil) e a SMPB por outra vultosa (R$ 300 mil). A própria Renilda coloca R$ 7.530,99 em cash na conta. As outras cinco operações são de autoria ignorada e somam cerca de R$ 455 mil.

Das 76 movimentações feitas nas contas de Valério, a maioria ocorre no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. A CPI já encontrou 56 no período que vai de 2000 a 2002. As 20 restantes ocorrem no governo do presidente Lula, a maioria em 2003. Apesar de ocorrerem em menor quantidade, as operações mais altas com dinheiro vivo nas contas do empresário acontecem já no governo Lula.

Procurado pelo Estado, o advogado de Valério, Marcelo Leonardo, disse que procuraria o empresário para falar do assunto. Até o fechamento desta edição, porém, ele não quis se manifestar.