Título: Planalto recorre a novo marqueteiro
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2005, Nacional, p. A8

A dez meses da eleição, o discreto João Santana deve ser contratado para analisar dados e indicar rumo do marketing governamental

Com o setor de publicidade destroçado pelo escândalo dos contratos com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, principal suspeito de ser o fornecedor do caixa 2 do PT, o governo tenta se socorrer no jornalista e publicitário João Santana, a dez meses da eleição presidencial. Pelas negociações feitas até agora, Santana deverá ser contratado para analisar as pesquisas internas e de conteúdo e apontar o rumo do marketing governamental no ano que vem. As conversações ficaram a cargo do secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci. Ele herdou a publicidade governamental há quatro meses, depois que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, recusou-se a ficar com o "abacaxi", definição usada por ela própria. Antes, a publicidade era tocada pela Secretaria de Comunicação de Governo, mas Lula tirou-lhe o status de ministério logo depois da eclosão do caixa 2 petista.

João Santana é um discreto publicitário com experiência multipartidária e internacional - foi ele quem fez a campanha do ex-presidente argentino Eduardo Duhalde. Em 1998 fez a de Antonio Britto (PMDB), no Rio Grande do Sul, e perdeu a eleição para o petista Olívio Dutra. Em 2002, trabalhou na eleição do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) e na reeleição de Zeca do PT, em Mato Grosso do Sul. Foi vitorioso com os dois.

Amigo do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), para os quais fez campanhas, seu nome foi levado a Lula como solução para dar um jeito no setor de marketing do governo. Afinal, diz um auxiliar do presidente, hoje o Planalto perdeu o rumo da publicidade.

O contrato com Duda Mendonça, que fez a campanha do candidato Lula, foi rompido em agosto, também por conta do escândalo do caixa 2. Duda era o palpiteiro oficial de toda a campanha, razão de vários dos desentendimentos com Gushiken. O mesmo auxiliar metaforiza a complicada situação do governo: ninguém sabe se é hora de comer figo ou pêssego. Ou mesmo se é hora de comer algo.

Quando Palocci falou com Lula da necessidade da contratação de um marqueteiro, ficou entendido que ele poderá pegar o contrato da campanha do candidato do governo à Presidência no ano que vem. O favorito é Lula, mas ninguém no PT tem 100% de certeza de que ele será mesmo candidato à reeleição.

O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, por exemplo, perguntou ao presidente se tem a autorização para sair candidato a deputado ou a governador da Bahia. Lula respondeu: "Espera, por que a pressa? Eu mesmo não me decidi ainda." Em vista das dúvidas de Lula, fala-se até no apoio do presidente ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB). O certo é que Lula só vai se definir depois que as CPIs dos Correios e dos Bingos encerrarem seus trabalhos. Elas reservam para o governo quase uma surpresa por dia.

Nas consultas que tem feito para encontrar novo marqueteiro, o governo chegou ao nome de Paulo de Tarso Santos, dono da agência de publicidade Matisse. Paulo de Tarso, que fez história no PT - criou o jingle "Lula, lá", de 1989, até hoje o mais lembrado pelos petistas - poderia formar dupla com Santana, na visão do Planalto. O problema é que ele é tido como de temperamento difícil, dizem os auxiliares do presidente.