Título: Do exterior, boas notícias
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2005, Notas e Informações, p. A3

No momento em que o Brasil procura assimilar a má notícia sobre o desempenho da economia no terceiro trimestre, quando o PIB encolheu 1,2%, no pior resultado desde 2003, do exterior vêm informações animadoras. A economia dos principais países industrializados vai bem, e pode melhorar. A dos Estados Unidos, por exemplo, está melhor do que se pensava até há pouco, a do Japão cresce a um ritmo que não se observava há décadas e a da Europa da zona do euro, se o excesso de cautela dos responsáveis pela política monetária não atrapalhar, sairá da letargia e começará a acelerar seus passos. Esta é uma boa notícia também para os brasileiros, pois a robustez da economia dos principais países industrializados tende a estimular também a atividade no País.

Nos EUA, o Departamento do Comércio revisou os números do terceiro trimestre e constatou que o PIB americano cresceu 4,3%, e não 3,8%, como anunciara na primeira estimativa. Esse número mostra com clareza que os efeitos dos furacões, especialmente o Katrina, que arrasou a cidade de New Orleans e interrompeu as atividades dos poços de petróleo e das refinarias da região do Golfo do México, foram limitados. Dados recentes sobre preços, de outra parte, revelam que a alta do petróleo no mercado internacional não resultou na temida aceleração da inflação.

Também na zona do euro a atividade econômica mostrou bom desempenho no terceiro trimestre, o que dá força às previsões de que, daqui para a frente, o consumo aumentará mais depressa e impulsionará o crescimento. De acordo com a agência de estatísticas da União Européia, a Eurostat, o PIB dos 12 países que formam a zona do euro cresceu 0,6% no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior. É o maior aumento desde o primeiro trimestre de 2004. Em relação ao terceiro trimestre de 2004, o aumento foi de 1,6%.

Esses dados reforçam as previsões de crescimento das principais economias do mundo anunciadas pela OCDE. "O crescimento mundial se ampliou nos últimos meses", diz o economista-chefe da OCDE, Jean-Philippe Cotis. "Já forte na América do Norte e na maior parte da Ásia, a atividade econômica parece bem firme no Japão e, na Europa continental, se recupera progressivamente de um período de fraqueza."

De acordo com a OCDE, o ritmo de expansão da economia americana poderá se reduzir um pouco daqui até 2007, mas será uma redução muito pequena. Em 2005, de acordo com a organização, o PIB dos EUA crescerá 3,6% e, em 2007, 3,2%. A economia japonesa, por sua vez, depois de décadas de estagnação, deverá crescer 2,4% neste ano; nos próximos dois anos, poderá registrar pequena desaceleração, mas também neste caso não ocorrerá uma freada brusca. Já a zona do euro deve crescer 1,4% em 2005 e 2,2% em 2007.

Quanto à inflação, ela está contida no nível de 2% ao ano nos EUA, apesar da recente alta da gasolina. O Japão registra deflação e, na Europa, o núcleo da inflação tem mostrado tendência firme de queda.

É claro que muitos problemas poderão ter desdobramentos inesperados, alterando o desempenho da economia. As taxas de câmbio, a cotação do petróleo e os preços dos ativos financeiros oscilarão. Desequilíbrios econômicos poderão determinar movimentos bruscos de capitais ou fuga das aplicações em dólar. Em algumas regiões desenvolvidas, os preços dos imóveis estão muito altos, o que torna vulneráveis as aplicações no mercado imobiliário.

Além disso, decisões excessivamente conservadoras dos bancos centrais inibiriam o processo de recuperação, o que pode ser particularmente notável na Europa, onde o processo de crescimento ainda é frágil. Para a Europa, a OCDE recomendava que o aperto monetário fosse adiado. A recomendação não foi, porém, levada em conta pelo Banco Central Europeu, que, depois de cinco anos sem mexer no juro básico, em dezembro decidiu elevá-lo em 0,25 ponto porcentual. Melhor seria que, neste momento, os governos adotassem políticas fiscais mais rigorosas, para reduzir seus déficits.