Título: Melgaço (PA): educação e saúde fracas
Autor: Lisandra Paraguassú e Francisco Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Vida&, p. A22

O pescador José Sebastião de Souza, de 43 anos, sempre cultivou um sonho que, para ele, a cada dia parece mais distante: ver seus cinco filhos comer pelo menos duas refeições por dia, freqüentar a escola e ter acesso ao sistema de saúde pública. Souza, que escreve com dificuldade o próprio nome, ainda não deparou com uma boa razão para deixar de ser pessimista. Ele mora em Melgaço, município do Arquipélago de Marajó a mais de 500 quilômetros de Belém. Pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Pará, segundo comprovou em 2004 a Organização das Nações Unidas (ONU), Melgaço agora passa a freqüentar a vergonhosa galeria dos municípios com um dos piores Índices de Desenvolvimento Infantil (IDI) do País entre 1999 e 2004, conforme o relatório do Unicef. Com índice 0,151 cinco anos atrás, Melgaço pulou para 0,168 no novo relatório, mas ainda assim continua como o pior dos 143 municípios paraenses.

A frieza dos números desse relatório conspira contra os sonhos de Souza de almejar uma vida melhor para os filhos. Em 1994, Melgaço ocupava a posição 5.484 do ranking nacional, mas dez anos depois subiu para o 5.550º lugar. Com 5,3 mil habitantes, apenas 42% de suas crianças com 1 ano foram vacinadas. Na educação, a situação é dramática: só 19,26% estão na pré-escola.

O prefeito José Maria Viegas (PSDB) fica incomodado com os números do Unicef e, como fez com os da ONU, contesta a condição de seu município como um dos piores do Brasil, seja em desenvolvimento humano ou infantil. "Não nego que há problemas, mas esses números não correspondem à realidade de Melgaço." Para Viegas, há mais crianças nas escolas e recebendo atendimento médico do que aparecem nas estatísticas.

A Secretaria Municipal da Educação também rebate os números, afirmando que só crianças que residem em áreas de difícil acesso da zona rural estão fora da escola.