Título: BC corta apenas 0,5 ponto no juro
Autor: Renée Pereira e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Economia & Negócios, p. B1
O Comitê de Política Monetária (Copom) mais uma vez resistiu às pressões e optou pelo corte de apenas 0,5 ponto porcentual da taxa básica da economia (Selic) na última reunião do ano. Com isso, o País termina 2005 com a Selic em 18% ao ano e a taxa de juro real (descontada a inflação para os próximos 12 meses) acima de 12% - a maior do mundo. A decisão, sem viés, confirmou a aposta majoritária do mercado financeiro, mas ao contrário do que vinha ocorrendo nos últimos encontros não houve unanimidade. Dos oito diretores, dois votaram a favor de uma redução mais agressiva de 0,75 ponto porcentual. A reunião foi uma das mais longas do ano e durou cerca de três horas.
Ao divulgar a decisão, o Banco Central (BC) repetiu o texto do comunicado do último encontro: "Dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária iniciado na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 18% ao ano, sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela redução da taxa Selic em 0,75 ponto porcentual."
Esta foi a quarta queda consecutiva da taxa Selic, que voltou ao menor nível desde a reunião de dezembro de 2004, quando os juros estavam em 17,75% ao ano. O resultado mais uma vez frustrou economistas e empresários, que esperavam um corte mais agressivo, especialmente depois do desempenho negativo da economia no terceiro trimestre deste ano. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) no período de julho a setembro caiu 1,2%.
"Foi uma decisão frustrante, pois havia espaço para um corte de pelo menos 0,75 ponto nesta reunião", afirmou o professor, Tharcísio Souza Santos, diretor do FAAP-MBA. Na avaliação dele, os indicadores econômicos mostram que havia oportunidade para acelerar a queda da Selic ainda neste ano. Além disso, a redução dos juros poderia contribuir para o controle da queda do dólar frente ao real. Santos afirma que boa parte da valorização do câmbio deve-se ao elevado juro real brasileiro combinado à alta liquidez do mercado externo.
Um ponto positivo na opinião dos economistas foi o fim da unanimidade na decisão. Isso porque o fato abre a possibilidade de uma redução mais agressiva a partir de janeiro, afirma o economista do Banco Santander, Constantin Jancso. "Mas fica difícil falar algo sem ler a ata", que será divulgada na quinta-feira da semana que vem.
Na opinião do economista-chefe do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, a decisão do Copom veio em linha com a expectativa da instituição. Ele explica também que houve um repique da inflação nas últimas semanas, o que pode ter influenciado os diretores do Copom a reduzir apenas 0,5 ponto. Em relação à atividade econômica, Penteado afirma que houve apenas uma queda temporária. "O que importa para o BC é o aumento da capacidade de produção." Mas para a reunião de janeiro, o economista acredita que seja possível acelerar o corte em 0,75 ponto.
Para o economista-chefe da GAP Asset Management, Alexandre Maia, a discussão de aceleração da queda dos juros continuará muita viva nos próximos meses. O economista do Banco Santander Constantin Jancso acredita que o fato de a decisão pelo corte de 0,50 pp da Selic não ter sido unânime aumenta a probabilidade de reduções maiores nas próximas reuniões.