Título: Velloso: custo para União será de R$ 4bi
Autor: Sheila D¿AmorimVânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2004, Nacional, p. A5

O aumento do salário mínimo em R$ 19 acima dos R$ 281 previstos na proposta orçamentária enviada ao Congresso para 2005 exigirá cortes e remanejamentos adicionais de gastos para o ano que vem de cerca de R$ 2,5 bilhões. Comoo reajuste de 10%na tabela do Imposto de Renda significará que a Receita Federal deixará de arrecadar cerca de R$ 1,5 bilhão por ano, o custo extra para as contas públicascom as medidas anunciadas ontem chegará a R$ 4 bilhões. ¿O governo do presidente Lula vai ter de arranjar mais R$ 4 bilhões ao ano para fazer frente a essas despesas¿, disse o especialista em contas públicas Raul Velloso. Já o impacto total do reajuste do mínimo dos atuais R$ 260 para R$ 300 custará aos cofres públicos R$ 7,5 bilhões a mais, segundo cálculos do economista para mercados emergentes do Dresdner Bank, Nuno Câmara. ¿Vou contar com o aumento de arrecadação do governo e fazer alguns cortes no custeio e cortes seletivos nos investimentos¿, disse ontem o relator da proposta orçamentária na Comissão de Orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR). Na última semana, ao apresentar a sindicalistas a proposta de reajuste que levaria ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva esta semana, oministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, adiantou que o governo trabalhava com umcusto adicional de cerca de R$ 2,5 bilhões nas contas públicas. Omaior impacto será na Previdência Social, que responderá por quase R$ 2 bilhões dessa despesa extra. Ao todo 62% dos benefícios estão vinculados ao mínimo ¿ 14,5milhões de beneficiários serão afetados pelo aumento. Além da despesa com aposentadorias e pensões, o reajusto do mínimo afeta o valor pago pelo governo como seguro desemprego e no abono do PIS/Pasep, espécie de 14.º salário pago a pessoas que ganharam até 2 salários mínimos no ano anterior. O professor José Márcio Camargo, do Departamento de Economia da PUC do Rio e sócio da Tendências Consultoria Integrada, acha que do ponto de vista econômico o aumento é ¿um desastre, pois desloca recursos que poderiam ser gastos com investimentos ¿ por exemplo, para melhorar a educação pública ¿ para gastos correntes, principalmente aposentadorias e pensões, em um país que já gasta 12%de seu Produto Interno Bruto (PIB) com estas rubricas, tendo apenas 6,75% de sua população de idosos¿. Emmédia, contou, os países com esta proporção de idosos gastam 6% de seus PIBs com aposentadorias e pensões. Para Nuno Câmara, o aumento do salário mínimo não foi bem recebido no meio financeiro. ¿Como há excesso de arrecadação, o governo poderia usar esse dinheiro para gerar investimentos que levam a crescimento da economia e aumento de emprego¿, afirmou o economista. ¿Isso poderia ser feito com cortes de impostos para desonerar o setor produtivo em áreas que representam gargalos ao crescimento. O aumento do mínimo é uma notícia boa muito mais no campo político do que econômico¿, completou