Título: UE decide hoje se aceita negociar adesão da Turquia
Autor: Reuters, EFE, France Presse e DPA
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2004, Internacional, p. A20

Os chefes de Estado e governo dos 25 países que compõem o Conselho da União Européia (UE) participam hoje em Bruxelas, na Bélgica, de uma cúpula histórica na qual decidirão se iniciam ou não as negociações em 2005 para adesão da Turquia, país de maioria islâmica, ao bloco europeu. A reunião começa com recomendações favoráveis a Ancara de duas importantíssimas instituições da UE - a Comissão Européia (órgão executivo da UE) e o Parlamento Europeu. A Comissão Européia já havia aprovado as negociações com Ancara há algum tempo. O Parlamento Europeu deu sinal verde ontem. Reunidos em Estrasburgo, na França, 407 eurodeputados votaram "sim", 262, "não", e 12 se abstiveram.

O resultado da votação do Parlamento, embora não tenha força de lei neste caso, terá grande peso na decisão dos chefes de Estado e governo. O Parlamento Europeu é o único órgão da UE no qual seus membros são eleitos diretamente pelos cidadãos de cada país do bloco.

Se o Conselho da UE aprovar a adesão da Turquia, as negociações deverão ser iniciadas em meados do próximo ano. A adequação dos turcos às exigências políticas, sociais e econômicas da UE deverá levar muitos meses ou até mesmo anos, segundo especialistas europeus. Há quem acredite que a incorporação de Ancara à UE só ocorrerá no fim da década.

Entre os requisitos, um é particularmente delicado. A Turquia deve reconhecer o território de etnia grega de Chipre, que já integra a UE. Os turcos, que invadiram militarmente em 1973 a parte norte da ilha habitada por turcos étnicos, já deixaram claro que só reconhecerão uma Chipre unificada. "Estamos diante de um problema", advertiu o governo da Holanda, que exerce a presidência rotativa da UE. É importante no aspecto político que a Turquia assine o protocolo de ampliação do acordo aduaneiro que inclui os dez novos países membros da UE, entre os quais Chipre, destacou um porta-voz do governo holandês. "Caso contrário vamos ter uma séria pendência com Nicósia (capital de Chipre)", acrescentou ele.

Por sua vez, o Parlamento Europeu, ao dar sinal verde para as negociações, impôs algumas "condições-chave" a Ancara, como o reconhecimento de Chipre e a retirada de suas tropas da ilha, melhoria de relações com a comunidade curda do país e reconciliação com o povo armênio, admitindo, oficialmente, o genocídio turco de cristãos armênios em 1915.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, reiterou ontem que a Turquia não aceita nenhuma condição para iniciar negociações. "Se os dirigentes europeus optarem por imposições inaceitáveis, vamos congelar nossa candidatura à UE", ameaçou.

Além de debater o início de negociações com a Turquia, os dirigentes europeus vão analisar os ingressos de Romênia, Bulgária e Croácia; discutir os orçamentos da UE para o período 2007/2013 e cooperação antiterrorista, e o papel do bloco europeu na crise ucraniana e nos conflitos do Oriente Médio.