Título: Banco Santos: doceira é 'laranja' de empresa
Autor: Ana Paula Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2004, Economia, p. B9
A Santospar Investimentos, Participações e Negócios - uma empresa ligada ao Banco Santos - é presidida por Alessandra de Souza Petri, doceira desempregada, mãe de dois filhos e moradora do bairro de Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo. O nome de Alessandra aparece em ata registrada na Junta Comercial da cidade de São Paulo, como presidente, diretora e representante da empresa. Entre os sócios, a Santospar tinha Ronaldo Rabelo de Morais, um executivo do Banco Santos. As debêntures emitidas pela Santospar eram negociadas pelo banco e eventualmente garantidas pela Procid Invest Participações S/A, uma empresa na qual Edemar Cid Ferreira tem participação no capital. O patrimônio da Santospar é de R$ 18,9 milhões.
"Quem dera nós tivéssemos um dinheiro desses", comentou Maria do Carmo, mãe de Alessandra, à porta da casa que fica logo atrás de uma mercearia. A presidente da Santospar não estava em casa no momento da reportagem, ontem à tarde. Estavam apenas a mãe, a irmã Andréa e a cadela Belinha. Andréa informou que Alessandra havia saído para procurar emprego e só retornaria à noite.
"Não recebemos nenhuma carta, nada desse banco", disse Andréa Ela afirmou que sabe o que acontece no Banco Santos apenas pelas notícias da televisão, mas garantiu que a irmã não tem ligação com ele ou com o banqueiro Edemar Cid Ferreira. "Não sei como o nome dela entrou nessa história." Segundo a irmã, só Alessandra poderia dar alguma idéia de como o envolvimento possa ter acontecido.
"Minha família é honesta e nunca se meteu com essas coisas", disse Maria do Carmo. "Nunca veio ninguém desse banco aqui." Ao olhar a suposta assinatura de Alessandra no documento da Junta Comercial, ela negou que pertencesse à sua filha. "Esta não é a assinatura dela."
Os vizinhos também não sabiam de nada sobre a vida de Alessandra. A maioria apenas a conhece de vista. "Ela sempre passa por aqui, às vezes com as crianças, mas nunca conversou nada sobre banco ou que fosse executiva de alguma empresa", disse um vizinho que não quis se identificar.
O vínculo de Alessandra com o Banco Santos veio à tona na segunda-feira, quando o advogado João Casillo, representante da empresa Fujiwara, uma das clientes do Banco Santos, conseguiu que a Justiça decretasse o arresto de parte da coleção de obras de arte do banqueiro. Entre os argumentos que usou para justificar a medida, estava o fato de que a Fujiwara investiu R$ 9,8 milhões em debêntures emitidas pela Santospar.
Em sua ação, Casillo apontava que a empresa era presidida por uma "doceira", sinal de uma possível fraude. "Era uma irregularidade diretamente ligada ao banco, uma vez que toda a documentação tinha timbre do Santos e nada levava a crer que a Santospar fosse suspeita", disse Casillo.
O nome da Santospar também aparece em outras operações duvidosas. Em uma delas, clientes compraram, por meio do banco, R$ 11 milhões em debêntures da Santospar. O investimento era garantido pela Procid Invest Participações e Negócios S/A, uma das quatro empresas que levam o nome Procid no grupo Santos, entre elas a controladora de todo o grupo.