Título: O adeus de João Paulo, sem reeleição
Autor: Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2004, Nacional, p. A6

Presidente da Câmara sai com mais prestígio do que tinha ao entrar

Primeiro petista a presidir a Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) encerra seu mandato de dois anos sem conseguir realizar o projeto de reeleição. Foi um presidente com atuação elogiada pela oposição, que considera sua gestão democrática por permitir a eleição de um líder da minoria. Mas João Paulo, como seus antecessores no cargo, teve de se submeter à inegável força do Executivo que dominou as votações da Casa, com apenas seis projetos de iniciativa de deputados aprovados em 2004.

Considerado cordial pelos deputados, João Paulo, entretanto, teve uma despedida inesperada: ele chocou os parlamentares na última sessão do ano, na quarta-feira passada, quando preferiu participar de um compromisso fora da Casa a presidir as votações e a fazer o tradicional discurso de despedida da presidência. A sessão foi encerrada abruptamente pelo vice-presidente Inocêncio Oliveira (PFL-PE).

Ao mesmo tempo em que colocou abaixo os vidros blindados que protegiam os parlamentares de manifestantes nas galerias do plenário, João Paulo foi obrigado a conviver com a polêmica entrada da tropa de choque da Polícia Militar do Distrito Federal em um anexo da Casa durante protestos contra a reforma da Previdência ainda no primeiro semestre de seu mandato em 2003. Na manhã do dia seguinte, diante do destaque dado pela imprensa e ciente de que o episódio poderia manchar sua biografia, João Paulo chorou publicamente em uma solenidade na Casa.

João Paulo sai da presidência da Câmara com prestígio para assumir um ministério. Apontado para o lugar do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, João Paulo tem pretensões políticas de ser o candidato do PT ao governo de São Paulo nas eleições de 2006. Terá de enfrentar outros petistas poderosos, a prefeita Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante, que também disputarão a vaga.

Os últimos meses de João Paulo no comando da Câmara foram marcados por divergências entre os partidos da base aliada, uma paralisia crônica dos trabalhos em função do excesso de medidas provisórias e o fracasso da aprovação da emenda da reeleição. A possibilidade da proposta voltar à pauta a qualquer momento acabou se transformando em argumento de partidos aliados, principalmente o PMDB, para travar os trabalhos na Casa e barganhar com o governo. A avaliação de aliados é que João Paulo acabou ficando desestimulado e ressentido com a derrota da emenda da reeleição e que isso refletiu em sua atuação neste semestre.