Título: Nilmário cobra ação contra milícias
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2004, Nacional, p. A7

Secretário quer ação rápida contra grupos armados na zona rural de Pernambuco e elucidação da morte dos três sem-terra

Monica Bernardes

RECIFE - O secretário nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, disse ontem que vai cobrar do governo de Pernambuco o combate efetivo e rápido a grupos armados na zona rural. Segundo informações que ele recebeu de líderes do Movimento dos Sem-Terra (MST), esses grupos atuam em várias cidades do interior do Estado. "Temos em mãos relatos sobre a ação de diversos grupos", disse o ministro Nilmário. "Em alguns casos já existem investigações em andamento e os suspeitos até chegaram a ser identificados."

Para Nilmário, as autoridades do governo de Pernambuco deveriam tomar como exemplo a ação do governo de Minas, no caso do assassinato de cinco trabalhadores sem-terra ocorrido no mês passado em Felisburgo. Graças à ação integrada das Polícias Militar e Civil, do Ministério Público e de outros organismos estaduais, os suspeitos foram rapidamente identificados e presos.

Nilmário também anunciou ontem que vai acompanhar pessoalmente o andamento das investigações sobre o assassinato dos três agricultores pernambucanos, ligados ao MST, ocorrido na semana passada.

Anteontem o ministro esteve em Passira, município da Zona da Mata Norte, para acompanhar o funeral dos irmãos Francisco Manoel de Lima e Edílson Rufino da Rocha, motos a tiros na manhã de sexta-feira. O terceiro sem-terra assassinado foi Josuel Fernandes da Silva. Ele morreu dois dias antes, no município de São José da Coroa Grande, na região litorânea de Pernambuco.

PROMESSA DE APOIO

Em Passira, o ministro coordenou uma reunião entre representantes da coordenação estadual do MST, da Polícia Federal, do Ministério Público Estadual, do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Polícia Civil pernambucana. Diante do chefe da Polícia Civil, Aníbal Moura, que também foi para a região, Nilmário assegurou aos sem-terra o apoio total do governo federal, por meio da Polícia Federal, no trabalho de investigação.

Entre os sem-terra, o clima é de tensão. "A revolta é geral", disse o coordenador estadual do MST, Jaime Amorim. "Esperamos que não só os assassinos de nossos três companheiros como os mandantes dos crimes sejam presos, julgados e condenados. Muitos dos envolvidos nós sabemos quem são. Queremos também que os responsáveis pelas mortes e pela tortura de vários outros companheiros sejam punidos." Ele disse que em Pernambuco houve cinco assassinatos de sem-terra este ano. Os outros dois foram mortos no início do ano.

REUNIÕES

Hoje a coordenação estadual do MST participa de nova reunião no Ministério Público de Pernambuco. Os sem-terra devem conversar com o delegado especial que será indicado pela Polícia Civil para acompanhar as investigações.

Amanhã eles se reunirão com a superintendente do Incra, Maria Oliveira, para discutir a agilização do processo de desapropriação das Fazendas Recreio e Manguinhos, localizadas, respectivamente, em Passira e São José da Coroa Grande. Os agricultores assassinados estavam envolvidos na disputa daquelas duas áreas.