Título: Jovens em busca do corpo perfeito
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2004, Vida &, p. A9

Pesquisa com mais de 2 mil deles mostra que 60% modelam o corpo, 11,18% tomam remédios para emagrecer e 2,39%, anabolizantes

Silvana Guaiume

CAMPINAS - P esquisa feita pelo professor de educação física Daniel Carreira Filho, utilizada em sua tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), indicou que 60% dos adolescentes entrevistados lançam mão de métodos para modelar o corpo, 11,18% tomam remédio para emagrecer e 2,39% consomem esteróides anabólicos para ganhar massa muscular. O estudo envolveu 2.219 estudantes de 14 a 18 anos. Os entrevistados, 1.138 homens e 1.081 mulheres, estudam em sete escolas públicas e particulares de São Caetano do Sul. O professor conta que escolheu a cidade por ser considerada exemplo de inclusão social no Brasil. Ele afirmou que é o primeiro estudo epidemiológico do gênero no País, porque envolveu um grupo heterogêneo, e não específico, como os freqüentadores de academias.

"Os números são preocupantes. Nunca existiu uma sociedade cobrando tanto do adolescente uma referência de corpo que, na verdade, é inatingível", disse Carreira Filho. Ele acrescentou que 80% dos entrevistados desconhecem as conseqüências do uso de substâncias químicas.

De acordo com o professor, uma das surpresas do estudo é que a mulher não é a única a se preocupar com a aparência para concorrer com outras mulheres. "O rapaz não modela seu corpo para as meninas, mas para ser maior que os outros rapazes", disse. Dos entrevistados, apenas 6,66% das meninas se declararam satisfeitas com seu corpo e 10,72% dos rapazes.

Entre os que adotam métodos de modelagem corporal, somente 15,86% revelaram fazê-lo com acompanhamento de um médico. "A maioria consome substâncias, inclusive drogas pesadas, porque ouviram falar que é bom ou porque o amigo consome", explicou Carreira Filho. O mesmo vale para os regimes sem orientação médica. "Há mais de 2 mil sites na internet que entregam remédios para emagrecer em casa", disse.

EFEITOS GRAVES

Os efeitos colaterais do uso de anabolizantes são muito graves, lembrou o professor. Causam desde perda de potência sexual, retenção de líquidos e problemas cardíacos até câncer no fígado e nos testículos. "Há casos de homens que precisam extrair mamas porque o corpo passou a produzir hormônio feminino em excesso para rebater a alta quantidade de hormônio masculino consumido."

A pesquisa com os adolescentes indicou ainda que 30% das meninas e 60% dos meninos praticam atividades físicas regularmente. "A prática esportiva não é fator preponderante na adoção de métodos de modelagem do corpo", avaliou o professor.

De acordo com Carreira Filho, 6% dos jovens que estão abaixo do peso e 12% dos que têm peso normal revelaram que tomam remédios para emagrecer. Ele acredita que seja necessário criar mecanismos de controle e orientação para evitar o consumo de substâncias químicas por jovens sem indicação médica.