Título: Documento desmente Pinochet
Autor: Reuters
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2004, Internacional, p. A14

Jornal confirma sua relação com Contreras e advogados da acusação qualificam sua internação em hospital de 'manobra'

Ao mesmo tempo em que advogados de direitos humanos qualificavam de "manobra para impressionar os tribunais" a internação de Augusto Pinochet, no sábado, no Hospital Militar de Santiago, a revelação de um documento de 1973 pode complicar sua situação judicial no caso da Operação Condor - a ação coordenada de várias ditaduras sul-americanas para reprimir líderes esquerdistas. No documento, publicado ontem pelo jornal La Nación, de Santiago, Pinochet pedia a todos os organismos de seu governo que colaborassem com o então tenente-coronel Manuel Contreras, que mais tarde formaria a Direção de Inteligência Nacional (Dina), a temível polícia política do regime militar. Até agora, a defesa de Pinochet sustentava que o ex-ditador nunca havia mantido nenhum contato com Contreras em relação às tarefas da Dina ou no que dizia respeito à sua formação ou atividades de extermínio. Pinochet manteve essa versão no depoimento que prestou ao juiz que instrui o processo, Juan Guzmán, em 25 de setembro. Na semana passada, Guzmán havia determinado que Pinochet estava mentalmente apto para ser submetido a julgamento pelo caso Operação Condor. O ex-ditador também enfrenta processos por envolvimento nos casos da caravana da morte - um esquadrão paramilitar que exterminou dezenas de opositores após o golpe de 1973 - e do atentado que matou, em Buenos Aires, o ex-comandante do Exército chileno Carlos Prats e a mulher dele, em 1974. Pinochet também enfrenta acusações de evasão fiscal.

Os médicos do Hospital Militar afirmaram que Pinochet, de 89 anos, "superou a gravidade" de seu quadro, mas pode ter seqüelas psico-orgânicas em decorrência do acidente vascular cerebral que sofrera na véspera. Hoje, a Corte de Apelações deve decidir se aceita o recurso da defesa de Pinochet para anular a ordem de prisão domiciliar emitida por Guzmán.

"Esta (a internação) é uma manobra para que o recurso seja aceito", afirmaram em um comunicado os advogados da acusação Fabiola Letelier, Juan Pavín, Juan Subercaseaux e Nelson Campos. "Não é nem uma estratégia nova. Primeiro, em Londres (durante sua prisão domiciliar de 1998 a 2000), fingiu uma grave doença, prostrado em cadeira de rodas, a mesma que deixou de lado ao descer do avião para cumprimentar seus partidários em Santiago."