Título: Construção lidera investimentos novos
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2004, Economia, p. B3
Fabricação de máquinas e equipamentos para o setor comandou o aquecimento na produção de bens de capital este ano
A fabricação de máquinas e equipamentos destinados à indústria da construção - guindastes, escavadeiras, rolos compressores, tratores, etc. - aumentou 38% de janeiro a outubro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, mostra o índice especial da pesquisa industrial do IBGE. Foi, de longe, o setor com maior crescimento de produção de bens de capital. O segundo maior crescimento foi o de equipamentos de transporte (23%), seguido pelos equipamentos industriais produzidos em série (18%). Alicates, máquinas de furar, tonéis de ferro, barris, chaves de fenda, marretas, compressores de gases são alguns exemplos desse tipo. A mudança de desempenho do setor de construção explica, em parte, o salto de 20,1% na taxa de investimento no País no terceiro trimestre, a maior desde o segundo trimestre de 1995. Durante todo o ano passado, a taxa foi negativa. Não há um corte específico no IBGE por setor para a taxa de investimento mas, levando-se em conta que o critério mais relevante no cálculo é o acompanhamento da produção de bens de capital, que são os equipamentos encomendados pela própria indústria, chega-se à conclusão que a construção vem de fato investindo mais.
"Uma boa forma de se identificar de onde vem o investimento é pela absorção de bens de capital", diz o coordenador de macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy. O investimento é medido nas estatísticas por meio da rubrica FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo). O maior peso neste cálculo cabe à construção civil. Segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), nos últimos três anos a participação relativa do setor na composição da FBCF ficou em torno de 64%. Em 2003, os investimentos em construção acumularam queda de 6,6%. O ano de 2004 começou com uma reação tímida, mas nos segundo e terceiro trimestres os investimentos tiveram alta de 11,3%, ainda de acordo com dados da Câmara.
A Fundação Getúlio Vargas revela, em cruzamento de dados feito a pedido do Estado, que vem da produção de material plástico para construção a mudança mais radicalmente positiva nas previsões de investimento para 2005. Em 2004, 81% das empresas ouvidas declararam redução de investimentos. Para 2005, o quadro é oposto: 85% prevêem aumento. "A indústria de bens de capital é a que demonstra mais agressividade nas projeções para 2005. Das empresas ouvidas neste segmento, 71% indicaram que vão investir mais", diz Jorge Braga, coordenador técnico da Sondagem Conjuntural da FGV, levantamento feito com mais de 2 mil empresas.
Na indústria de materiais de construção, embora seja ligeiramente superior a quantidade de empresas investindo mais em 2005, a situação ainda está bem dividida: 39% declararam que vão elevar os investimentos, 34% vão reduzir e 27% manterão a mesma posição. Já é um bom resultado, diante da redução de 2003 e da estagnação de 2004. A CBIC não arrisca um porcentual de crescimento, mas prevê para 2005 a maior expansão do PIB da construção nos últimos 15 anos, batendo o resultado histórico de 1997, com crescimento real de 7,62%. Este ano, o desempenho do setor ficará em torno de 7% de alta, resultado ainda tímido, diante da queda de 5,2% do ano passado.
Ex-funcionário da Caterpillar (uma das maiores fabricantes de equipamentos industriais) e da construtora Camargo Corrêa, Carlindo Macedo montou, há três anos, um site para intermediação de venda de máquinas. Sua empresa virtual, a Metramaq, tem registrado nos últimos seis meses insuficiência de equipamentos usados para suprir a procura, o que provocou um aumento imediato em torno de 10% nos preços.
"Esta semana liguei para confirmar a disponibilidade de um rolo compactador anunciado há um mês por R$ 65 mil e o preço pedido já havia aumentado para R$ 75 mil. A oferta diminuiu, a demanda subiu e os preços dispararam", diz ele. Macedo comenta que as grandes empreiteiras costumam trocar seus equipamentos depois de três anos e meio de uso. Mas, como são máquinas com uma vida útil longa, de até 25 anos, vão sendo revendidas e recolocadas no mercados até o ponto de virar sucata.
Os pedidos de novos financiamentos em análise no BNDES confirmam a tendência de crescimento. Um dos maiores destaques é o setor de metalurgia, de onde saíram 570 pedidos de empréstimo, totalizando R$ 11,2 bilhões. Este ano, os desembolsos para os setor não chegaram a um décimo disso: R$ 946 milhões e, mesmo assim, estão entre os melhores desempenhos no banco. Outros 564 pedidos, num total de R$ 5,1 bilhões, já estão enquadrados - o projeto foi aceito e o corpo técnico do banco já começou a analisar a possibilidade de aprovação. Boa parte destes pedidos deve virar financiamento efetivo no segundo semestre do ano que vem.
Empresa do Grupo Fiat, a CNH, líder mundial na fabricação de máquinas de construção, tratores e colheitadeiras, tem duas fábricas no Brasil. A de Curitiba (PR) é mais voltada para equipamentos agrícolas, enquanto a de Contagem (MG), para a produção de máquinas para construção.
Valentino Rizzioli, presidente da empresa para a América Latina, diz que o ano passado foi o pior ano para o setor de construção no País. A empresa se empenhou em compensar a fraca demanda doméstica com o aumento das exportações. "Desde 1999 o setor de construção está em depressão", diz. "O País produz, normalmente, entre 7 e 8 mil máquinas pesadas. No ano passado, foram somente em torno de 4 mil. No meio deste ano, começou o crescimento de demanda. Tivemos um aumento de produção no terceiro trimestre de 20% e acredito que o quarto trimestre será também nesta base. Para o ano que vem, esperamos um aumento de demanda de mais 15%."
Mesmo com a retomada, a produção ainda está longe do que foi em 1998, diz ele. A fábrica operava então com dois turnos e meio de operários. Hoje é um turno só e há como dobrar a capacidade produtiva apenas elevando o número de funcionários, sem investimento no aumento da capacidade. A fábrica mineira da CNH é a mais complexa do setor na América Latina pela diversidade de modelos de máquinas e marcas (Case Construction e Fiatallis no mercado interno, Fiat Kobelco e New Holland para exportação) que compartilham a mesma linha de produção.
Os investimentos em modernização iniciados em julho de 2003 e agora em fase de conclusão somam mais de R$ 20 milhões, para que a empresa tenha maior flexibilidade na linha de produção e aumento da produtividade.