Título: Em 2004, descobertos 83 campos de petróleo
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2004, Economia, p. B5

É o melhor resultado desde o fim do monopólio estatal em 1998

O ano de 2004 deve fechar como o melhor em termos de descobertas de petróleo desde o fim do monopólio estatal, em 1997. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), as concessionárias do setor fizeram 83 comunicados de descoberta de reservas de petróleo ou gás até agora. Dessas, 7 já foram declaradas comerciais, 2 por empresas privadas, que, pela primeira vez, confirmaram a viabilidade de campos de petróleo no País. A Petrobrás trabalha para confirmar mais dois campos gigantes na Bacia de Campos até o fim do ano. A expectativa da estatal é terminar o ano com 1 bilhão de barris em novas descobertas. Até então, 2002 tinha sido o ano mais prolífico em termos de descobertas desde a abertura do setor. Nesse ano, a Petrobrás declarou à ANP a comercialidade de cinco novos campos - declaração de comercialidade é a confirmação de que a empresa vai investir na produção de petróleo ou gás natural em determinada concessão. Na época, a estatal tinha bons motivos para intensificar os trabalhos exploratórios, pois no ano seguinte venceriam os prazos de exploração para as áreas concedidas à empresa antes do fim do monopólio. Ou seja, precisava descobrir reservas para não perder a concessão.

Este ano, foram cinco campos declarados comerciais pela estatal: Japiim e Azulão, no Amazonas; Piranema, em Sergipe; Baleia Franca, na Bacia de Campos; e Mexilhão, o campo gigante de gás natural em Santos.

Destes, dois são considerados estratégicos pela direção da empresa: Mexilhão contribuiu para triplicar as reservas nacionais de gás e Piranema tem 76 milhões de barris de óleo de excelente qualidade, do tipo que o Brasil precisa importar para melhorar a qualidade dos combustíveis que produz em suas refinarias.

O gás de Santos deve chegar ao mercado em 2009, segundo o planejamento estratégico da companhia. Japiim e Azulão também têm gás natural, que deve ser levado a Manaus. Devido à qualidade de suas reservas, o campo de Piranema terá sua produção antecipada já para o ano que vem, quando a estatal pretende estar produzindo 150 mil barris de petróleo de boa qualidade. Para isso, a empresa preferiu alugar uma plataforma pronta em vez de construir uma nova embarcação.

"Estamos trabalhando para declarar novos campos ainda este ano", disse o diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Francisco Nepomuceno. Dois ficam em uma área chamada Parque das Baleias, onde já estão Baleia Franca, Jubarte e Cachalote. Com os novos campos, a região terá 2,5 bilhões de barris de petróleo. Jubarte, a primeira descoberta, de 2002, inicia a produção de petróleo no ano que vem, por meio da plataforma P-34, com capacidade de 60 mil barris por dia.

A empresa ainda pode declarar a comercialidade de uma reserva em um campo terrestre na Bacia do Recôncavo Baiano, com 4,6 milhões de barris de óleo de boa qualidade. Por se tratar de um campo terrestre, a entrada em operação deve ocorrer em, no máximo, seis meses após a declaração de comercialidade. Outro campo em terra pode ser declarado comercial à ANP até o fim do ano pela Aurizônia, pequena petroleira nacional criada após o fim do monopólio. Localizado no Rio Grande do Norte, o poço terá capacidade para produzir 400 barris por dia, segundo o diretor da empresa Fernando Maya.

Um campo terrestre marcou a estréia de empresas privadas na lista de declarações de comercialidade da ANP. A Petrorecôncavo, também uma companhia nacional criada após o fim do monopólio, confirmou a viabilidade do Campo de Lagoa do Paulo, antiga jazida no Recôncavo Baiano abandonada pela Petrobrás. "Temos um enfoque diferente da Petrobrás, com interesse em campos menores, de até 100 barris por dia e, por isso, Lagoa do Paulo é viável para nós", explica o diretor financeiro e administrativo da Petrorecôncavo, Rafael Procaci da Cunha.

A descoberta mais significativa do ano, porém, pode ser creditada à americana El Paso, que confirmou a viabilidade do campo de gás de Lagosta, na Bacia de Santos, em um projeto onde tem parceria com a Petrobrás. É o primeiro campo comercial descoberto por uma multinacional no Brasil, ao lado do principal mercado consumidor de gás natural. A El Paso apresenta à ANP no próximo trimestre um plano de avaliação da área, com detalhes sobre investimentos e o prazo para produção.