Título: O bom ano de Sadia e Perdigão
Autor: Amanda Brum
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2004, Cenários, p. B10

Empresas celebram o crescimento considerável das exportações e o aquecimento da demanda interna

Para duas das maiores empresas brasileiras do setor de alimentos, a Sadia e a Perdigão, 2004 termina com motivos de sobra para se comemorar. Além de celebrarem neste ano datas memoráveis de sua história - a primeira completou 60 anos de atividades, enquanto a segunda chegou ao seu 70.º aniversário -, ambas caminham para concluir o exercício fiscal com desempenho considerado bastante satisfatório por analistas de mercado. O fato é que as duas empresas conseguiram se posicionar melhor no comércio internacional, já que a demanda externa por carnes de aves e suínos se manteve em alta, até por conta dos problemas que ocorreram em países como os Estados Unidos, como a vaca louca no início do ano, ou mesmo na Ásia, atingida pela gripe aviária. As remessas externas das duas companhias foram responsáveis, de janeiro a setembro deste ano, por pouco mais de 50% da receita bruta de vendas obtida por cada uma delas no período.

A receita bruta das exportações da Sadia somou R$ 2,65 bilhões de janeiro a setembro deste ano, um crescimento de 40% frente ao desempenho de igual período de 2003. A Perdigão não ficou atrás: a alta nas remessas externas chegou a 49,37%, com os embarques contribuindo com R$ 2 bilhões de seu faturamento no acumulado do ano.

A queda do preço de algumas commodities internacionais também beneficiou os negócios da líder Sadia e da vice-líder Perdigão ao longo deste ano, especialmente daquelas que impactam diretamente no negócio, como a soja e o milho (utilizados na ração animal). Outro fator que vem contribuindo para o bom desempenho de ambas é o aquecimento dos negócios no mercado interno, que se tornou mais perceptível a partir do segundo semestre, com a recuperação da renda disponível dos brasileiros para o consumo.

Apesar de ambas as companhias terem sido beneficiadas por esses fatores exógenos, a Perdigão foi o frigorífico brasileiro que despontou no ano com maior valorização de mercado, inclusive na comparação com seu principal concorrente. As ações preferenciais da empresa aumentaram cerca de 124% em 2004, enquanto os papéis da Sadia subiram por volta de 46%.

O interessante é que o resultado da Perdigão não surpreende os analistas do setor, que já apostavam nesse movimento logo no início do ano. Esses especialistas divergem, no entanto, quando desafiados a citar os fatores que explicam o desempenho tão positivo da Perdigão, já que o índice Bovespa acumula valorização de pouco mais de 11% neste ano.

Uma das linhas defende que a Perdigão, embora mais velha do que sua maior rival, está menos consolidada no mercado, apresentando, portanto, um maior potencial de crescimento. O raciocínio sugere que a empresa está exatamente um passo atrás da Sadia, que conseguiu saltar à frente a partir do terceiro trimestre de 2002, quando começou a colher os frutos de seu processo de reestruturação.

O analista Alexandre Garcia, da Ágora Sênior Corretora, diz acreditar que 2004 foi a vez da Perdigão passar por essa experiência. Daí, segundo ele, a companhia ter reduzido o seu endividamento, elevado as margens, lançado novos produtos e ampliado sua participação nos mercados em que atua.

Outra linha rebate essa teoria afirmando que, na verdade, a valorização dos papéis da Perdigão se deu pelo fato de o valor da empresa em relação ao lucro antes do pagamento de impostos, juros, depreciação e amortização (Ebitda) estar muito inferior ao da Sadia. É o opinião, por exemplo, da analista Tania Sztamfater, do Unibanco. Segundo ela, essa valorização que as ações da companhia experimentaram, nada mais é do que a recuperação de um atraso no valor do papel.

CONSENSO

Divergências à parte, é consenso entre os analistas que a situação da Sadia é muito satisfatória, inclusive em comparação com outras empresas de alimentos, nacionais ou internacionais. Afinal, embora sua valorização tenha sido menor que a da Perdigão, chega a ser no ano quase quatro vezes maior do que a da Bovespa.

Outro dado positivo é que, do volume financeiro negociado pelo setor de alimentos (que engloba outras competidoras, como Seara, Avipal e Chapecó) na Bolsa paulista, de janeiro a setembro deste ano, 51,8% vêm da Sadia. E, ainda assim, acredita-se que os papéis da companhia venham a se valorizar ao longo do tempo, embora em proporções e velocidades menores.

Outro consenso é que as margens de ambas as companhias devem melhorar no próximo ano, pela recuperação do mercado interno e a perspectiva de crescimento sustentado no País, pela tendência de o preço médio dos grãos se posicionar em um patamar menor e também pelas boas perspectivas de exportações. Por estar atrás da Sadia também nesse último aspecto, a aposta é que as margens da Perdigão aumentem mais. Garcia, da Ágora, prevê até dois pontos porcentuais