Título: Planalto trabalha para pôr Sarney no comando do PMDB
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2004, Nacional, p. A-4

Estratégia para tentar neutralizar divisão no partido conta com simpatia do próprio presidente do Senado e do líder Renan Calheiros

O governo quer afastar o deputado Michel Temer (SP) do comando do PMDB e por no seu lugar o presidente do Senado, Jose Sarney (AP). A estrategia vem sendo articulada com cautela pelo Palacio do Planalto e conta com a simpatia do proprio Sarney e do lider do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Sem pressa e nos bastidores o Planalto tenta, na pratica, neutralizar a divisao do PMDB,que,emconvencao nacional realizada no domingo, decidiu romper com o governo e determinar a entrega dos cargos ocupados pela legenda.Adecisao e contestada pela ala governista. Na noite de ontem, o presidente Luiz Inacio Lula da Silva reuniuse com Sarney, Renan, o lider do PMDB na Camara, Jose Borba (PR), e os ministros peemedebistas Eunicio Oliveira (Comunicacoes) e Amir Lando (Previdencia). Lula garantiu que, a partir de agora, a interlocucao sera feita sempre com esse grupo. Mais: disse que pretende separar ¿go joio do trigo¿h e prestigiar os parceiros fieis. ¿gO presidente vai conversar com os peemedebistas que querem se manter na base aliada¿h, afirmou o ministro-chefe do Conselho de Desenvolvimento Economico e Social, Jaques Wagner. ¿gGostariamos de ter o PMDB inteiro, mas, como nao foi possivel, vamos tentar institucionalizar os interlocutores.¿h Wagner nega a operacao para fazer de Sarney presidente do PMDB. ¿gO governo nao se intrometeemquestoes partidarias internas¿h, alegou. Outrosministros ouvidos pelo Estado, no entanto, confirmaram a estrategia. Um deles definiu da seguinte forma a decisao do PMDB de desembarcar do governo: ¿gE preocupante, mas nao desesperadora.¿hEmoutras palavras, a articulacao palaciana para alavancar a candidatura de Sarney a presidencia da sigla nao e sangria desatada, ate porque e de dificil execucao. O racha no PMDB, com suas consequencias para o projeto de reeleicao de Lula, em 2006, foi um dos assuntos avaliados ontem na reuniao da coordenacao politica de governo, que analisou alternativas para o aumento real do salario minimo e a correcao da tabela do Imposto de Renda. Embora Lula diga que nao esta preocupado com a reeleicao, o tema frequenta 9 entre 10 reunioes do PT. No Planalto, interlocutores do presidente avaliam que, se a ala do PMDB ligada a Temer lancar chapa propria a sucessao de Lula, oumesmose aliar ao PSDB,o projeto petista deumsegundo mandato podera ficar comprometido. E justamente por isso que a tatica vai na linha de mudar a cupula do PMDB e inflar a candidatura de Sarney. MUDANCA Em tese, a direcao do PMDB somente sera renovada em marco de 2006. Se depender do esforco dos governistas, porem, esse prazo sera antecipado. O senador Renan Calheiros e umdos que trabalham para fazer Sarney, seu ex-desafeto, presidente do PMDB. Em troca, Renan recebeu o apoio de Sarney para comandar o Senado. O acordo de cavalheiros entre os dois ocorreu depois que a emenda da reeleicao para as presidencias da Camara e do Senado foi sepultada. ¿gTemer vai ficar conhecido como o homem que fez o PMDB naufragar¿h, disse oministro Eunicio. ¿gO PMDB nao sera mais um partido fisiologico¿h, rebateu Temer, que desdenha da estrategia governista para tira-lo da presidencia do partido. ¿gQue convoquem outra convencao!¿h, desafiou. Para que consiga convocar outro encontro, a ala pro-Lula precisa de maioria, que hoje nao tem. Foi de olho em 2006 que o Planalto tentou convencer a prefeita de Sao Paulo, Marta Suplicy (PT), a ceder a vaga de vice para Temer quando ela se lancou candidata a reeleicao.Emvao.De nada adiantaram os apelos do Planalto, ja que Marta insistiu na chapa purosangue petista. Resultado: depois da eleicao, a ala do PMDB ligada a Temer passou a se distanciar cada vez mais do governo. No quarto andar do Planalto, a decisao doPMDBde romper com o governo serviu para fritar ainda mais o ministro da Coordenacao Politica, Aldo Rebelo (PC do B). Em conversas reservadas, amigos do chefe da Casa Civil, Jose Dirceu, dizem que Aldo falhou.OPT cobica sua cadeira e nao desiste de defenestra-lo do cargo. Para os petistas, o presidente da Camara, Joao Paulo Cunha (PT-SP), e o nome ideal para ocupar o lugar. O presidente Lula, no entanto, garantiu a Aldo que ele nao saira de la. A reforma ministerial, agora, ficou para o ano que vem.¿¿