Título: Dirceu pede audácia `sem aventura¿ para crescer
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2004, Nacional, p. A-6

Ministro-chefe da Casa Civil defende, porém, a manutenção do câmbio flutuante, rigor fiscal e metas de inflação, os fundamentos da política econômica

O ministro-chefe da Casa Civil, Jose Dirceu, afirmou ontem que o Pais nao pode ¡°cometer aventuras¡± na economia e vai manter os pressupostos da politica economica . cambio flutuante, rigor fiscal e metas de inflacao ., mas pediu ¡°audacia¡± para que o crescimento continue. Dirceu reconheceu que foi feito no Brasil um duro ajuste, com superavit primario (receita menos despesas, excluidos juros) de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e carga tributaria de 37% do PIB. Disse, porem, que o Pais vive agora uma grande oportunidade, com inflacao baixa e uma cultura de responsabilidade fiscal, para retomar o desenvolvimento economico e avancar no social. ¡°Precisamos de serenidade e persistencia no que fizemos ate agora¡±, discursou no seminario ¡°Cenarios, Perspectivas e Tendencias . Panorama do Brasil e do Mundo em 2005¡±, promovido pela Federacao do Comercio do Rio (Fecomercio). ¡°Nao podemos cometer aventuras, mas tambem precisamos de audacia. O que nao podemos fazer e nos apoiar no aumento da carga tributaria ou no endividamento interno e externo nem na emissao de moeda. E duro, as vezes doi, a gente as vezes se desentende por causa disso, mas nao podemos e, mais uma vez, jogar o Pais, o povo, numa outra aventura.¡± Segundo o ministro, o Brasil, estavel politicamente, precisa agora de estabilidade social. ¡°A estabilidade economica nao caminhara num pais instavel economicamente¡±, declarou. ¡°Temos de criar empregos, criar empregos, criar empregos. Se nao o fizermos, todo o restante sera uma ilusao.¡± Dirceu tambem defendeu a politica social do governo, contando que, desde o inicio do Bolsa-Familia, cerca de 30 mil familias foram excluidas do programa, por supostas irregularidades. Dirceu, que afirmou esperar que o desemprego baixe para um digito (menos de 10%) ainda em dezembro, disse que vai trabalhar para que o crescimento do PIB em 2005 supere a previsao do Instituto de Pesquisa Economica Aplicada (Ipea). ¡°Vou trabalhar dia e noite para que esse numero, de 3,8%, seja pelo menos um ponto maior. Nao me conformo com isso¡±, contou. O ministro reconheceu, entretanto, que o cenario economico em 2005 nao sera tao favoravel ao Pais como foi o de 2004, pois espera ¡°menos dinamismo¡± nas exportacoes e aumento nas importacoes. ¡°O que explica de certa forma a previsao de 3,8%¡±, declarou. O governo, segundo ele, vai trabalhar para em 2005 reduzir a divida interna para menos de 50% do PIB . ate outubro o porcentual era de 53,67% . e baixar o risco pais para menos de 200 pontos. Ontem, o risco Brasil fechou em 411 pontos. Ele tambem defendeu o fortalecimento do Estado. ¡°Precisamos perder o medo, o preconceito de afirmar que o Brasil precisa de um Estado forte¡±, disse. ¡°O Brasil precisa de planejamento, burocracia civil competente e de um Estado de bem-estar social¡±, disse. ¡°Nao podemos querer substituir o Estado pelo mercado.¡± INTEGRACAO Dirceu disse que o Brasil tem, a seu alcance, na America do Sul, ummercado para se integrar, e pediu entendimento com a Argentina, semelhante ao de franceses e alemaes (adversarios nas duas guerras mundiais e e agora parceiros na Uniao Europeia). ¡°Nao podemos pensar que o Brasil vai se desenvolver e a America do Sul vai se desenvolver se a Argentina nao se desenvolver. Nao querendo comparar, mas ja comparando, como a Alemanha e a Franca, Brasil e Argentina precisam se entender¡±, argumentou. ¡°Seria o ideal que tivessem politicas macroeconomicas e industriais comuns. Avancos foram feitos, politicos. Precisam ser acompanhados de avancos praticos.¡± Alem disso, o ministro pregou o avanco nas politicas industriais, dentro das regras do comercio internacional. ¡°Mas nao tao fanaticos, porque nossos parceiros falam, mas depois praticam outra politica¡±, provocou. PMDB Em rapida entrevista apos o discurso, Dirceu amenizou as consequencias da saida do PMDB e do PPS do governo. ¡°Sem o PMDB e o PPS?¡±, perguntou, sorridente e aparentando tranquilidade. ¡°Pelo que ouvi dos parlamentares do PMDB e do PPS, eles continuarao apoiando o governo¡±, disse. ¡°Vamos esperar o fim do ano, 2005 e um novo ano. Ai vamos trabalhar isso em 2005.

¿Temos de criar empregos. Se não o fizermos, todo o restante será ilusão¿