Título: Aeronáutica vai investigar destruição de documentos
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2004, Nacional, p. A-8

Comando deu 15 dias para apurar denúncia sobre arquivos que teriam sido queimados na Base Aérea de Salvador

O Comando da Aeronáutica abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) ¿ a cargo do brigadeiro Ramon Borges Cardoso e com 15 dias de prazo para terminar os trabalhos ¿- para apurar a denúncia de que arquivos da época do regimemilitar foram queimados, a céu aberto, na Base Aérea de Salvador. Ontem, o assunto, que gerou uma nova crise na área militar, foi um dos temas da reunião de coordenação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Planalto, no gabinete de crise no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e do Alto Comando da FAB. Embora investigações em vários níveis e de todas as formas estejam sendo realizadas na Aeronáutica, a ¿forma misteriosa¿ como ocorreu a queima dos documentos, assim como o local onde eles foram encontrados, está sendo considerada ¿muito estranha¿ pela cúpula da Força Aérea, que analisa até mesmo a hipótese de armação ¿ uso de documentos que estavam indevidamente em poder de pessoas desconhecidas. Por isso,um dos passos decisivos da investigação é descobrir quem filmou os documentos. A Aeronáutica insiste, e reproduz isso em nota oficial, que a instituição não queimou documentos. A FAB reiterou que ¿não há nenhuma documentação classificada a respeito desse período arquivada naquela organização militar¿ e informou que ¿as ações preliminares mostram que o método empregado para a destruição da documentação, apresentado na reportagem, é totalmente incompatível com aqueles estabelecidos pelas normas regulamentares da Aeronáutica para incineração de documentos oficiais¿. Com isto, os oficiais da FAB querem endossar a tese de que o que houve ¿foi armado¿. No ritual de destruição de papéis, primeiro os documentos são literalmente destruídos em uma máquina, que pica os papéis e, depois, são incinerados. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno da Silva, muito abatido, disse que tudo será apurado. ¿Vamos apurar tudo e fazer tudo para esclarecer o que houve¿, afirmou o comandante ao Estado, acrescentando que a força vai agir ¿rigorosamente dentro da lei¿. O porta-voz da FAB, brigadeiro Telles Ribeiro, que comandou uma das operações de busca ao Pará, no mês de agosto, para tentar encontrar corpos da Guerrilha do Araguaia disse que ¿há um sentimento de frustração¿ na cúpula da Força e reconheceu que os fatos ¿surpreenderam¿ a todos. No ano passado, o comandante havia ordenado a todos, da ativa e da reserva, que entregassem documentos. Na conversa com oficiais, o brigadeiro Bueno comentou que se considera ¿traído¿ porque fez a nota com base nas informações asseguradas pelo coronel Narcélio de que nada havia acontecido no local. Além disso, o brigadeiro Bueno tem se empenhado para atender a determinação do governo de encontrar os arquivos, particularmente os da Guerrilha do Araguaia. Ao empossar o novo chefe do serviço de Inteligência da FAB, por exemplo, o brigadeiro Bueno determinou que ele não medisse esforços para ir em busca desses documentos e que fosse, pessoalmente, a todas as segundas seções (inteligência) para que pudesse ser verificado se há ou não documentos ainda guardados. ALENCAR O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, ao ser indagado se ia pedir para o Exército, a Marinha e a Aeronáutica apresentarem todos os documentos, respondeu: ¿O que eu posso dizer é que graças a Deus oBrasil vive umestado de direito e a lei será cumprida e as Forças Armadas são guardiãs do cumprimento da lei, e tudo será feito de acordo com a lei.¿