Título: Técnico foiinscrito noBolsa-Famíliaà revelia
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2004, Nacional, p. A-10

Cadastrado indevidamente no programa Bolsa-Família do governo federal, Marcelo Elg Ferreira Jensen, técnico em informática, vai pedir garantias de vida na Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco. Ele anunciou a decisão ontem, por estar se sentindo ameaçado depois de ter tornado públicas irregularidades no cadastramento do programa no município de Bom Jardim, onde mora há 25 anos. Incomodado com a descoberta de ser beneficiário do programa através de cadastramento feito pela prefeitura ¿ sem que soubesse ou tivesse solicitado ¿ ele não suportou esperar a demora da promotoria pública no município e passou a investigar o caso por conta própria. Identificou 13 pessoas ¿ entre elas professoras, funcionários públicos e parentes, um comerciante e uma cadastradora do Fome Zero ¿ que também seriam beneficiários do programa. Marcelo afirmou ter tomado um grande susto ao confirmar a informação dada por um amigo, em maio, de que estava cadastrado no programa. Confirmou o fato na Internet e fez a denúncia, em junho, ao então representante do Ministério Público no município, promotor Amaro Reginaldo. ¿Ele prometeu tomar as providências, mas foi transferido em agosto e nada fez; procurei então a promotora que o substituiu, Sílvia Câmara, que não era da cidade, não conhecia as pessoas e disse que iria cuidar do caso depois das eleições, por estar assoberbada de trabalho¿, relatou. Impaciente com a demora, e com a informação de que a Prefeitura de Bom Jardim estaria excluindo os cadastros irregulares, procurou no dia 29 do mês passado a corregedoria-geral do Ministério Público estadual, que só então tomou conhecimento do fato. Na ânsia de limpar o seu nome e de colaborar para que os recursos do Bolsa- Família sejam destinados a quem passa real necessidade e fome, Marcelo Jensen acredita ter contrariado muita gente. Sentindo-se intimidado, está morando na casa de parentes em Olinda, região metropolitana, e passou a visitar a mãe e a irmã de 14 anos, com menos freqüência. DADOS Nas suas investigações, Marcelo descobriu ter sido cadastrado como ¿técnico agrícola analfabeto¿, órfão de pai (o pai é vivo) e com endereço em um sítio. A data de nascimento também estava errada. O nome da mãe estava escrito de forma errada. Ele não sabe se alguém recebeu por ele nos anos de 2002 e 2003. Em 2004 foram depositados mensalmente R$ 50,00 em seu nome na Caixa Econômica de Bom Jardim, que não foram sacados.