Título: Brasil ameaça retaliar Argentina
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2004, ECONOMIA & NEGÓCIOS, p. B-1

ACamexavisa que restrições aprodutos brasileirospodemser respondidas combarreiras às importações de produtos argentinos

O governo brasileiro reagiu duramente ontem às ameaças da Argentina de aplicar novas restrições contra as importações de produtos brasileiros e de legalizar as salvaguardas comerciais dentro do Mercosul, mesmo sob o risco de o tema azedar a Reunião de Cúpula do bloco, que começou ontem, em Ouro Preto. Ao final da última reunião dos ministros que compõem a Câmara de Comércio Exterior (Camex) neste ano, o seu secretário executivo, Mário Mugnaini, declarou que o Brasil poderá adotar barreiras similares às importações de trigo, arroz, vinho de mesa, alho e cebola da Argentina. ¿O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve no Sul e ouviu as reclamações dos produtores contra o aumento das importações de produtos argentinos¿, afirmou Mugnaini. ¿Se eles (o governo e os setores privados argentinos) têm problemas (com o ingresso de produtos brasileiros), nós tambémtemos. Não introduzimos ainda o assunto nas conversas bilaterais. Mas, se eles insistirem, também podemos adotar medidas equivalentes.¿ A lista inicial de cinco produtos ameaçados, entretanto, traz dois itens que registraram recuo nos desembarques entre janeiro e outubro deste ano, em comparação com os resultados de igual período de 2003. As importações de trigo e de alho argentinos caíram 18% e 2,2%. Ao contrário, as compras de vinho de mesa, de arroz e de cebola aumentaram 104,5%, 49,7% e 8,4%. A decisão da Camex sobre as salvaguardas se deu logo depois da apresentação do relato das discussões entre negociadores brasileiros e argentinos travadas na sexta- feira, em Buenos Aires. Ao final do encontro, os dois lados decidiram prosseguir com as conversas para que o tema seja definido apenas em janeiro. De acordo com Mugnaini, tanto os representantes do Brasil como os da Argentina concluíram que é preciso criar mecanismos para evitar o aumento das ¿exportações daninhas¿. Rechaçada pelo próprio presidente Lula, a proposta argentina prevê a adoção de uma espécie de gatilho, que acionará restrições às importações de produtos brasileiros (as salvaguardas) toda vez que houver descompasso entre as taxas de crescimento da economia dos dois países ou variação cambial e ainda sob qualquer hipótese de aumento inusitado dos desembarques. A Argentina ainda apresentou o insólito pedido de adoção de regras de conduta sobre os investimentos de multinacionais na região, de forma que as empresas não priorizarem um país emdetrimento do outro. Cientes de que teriam de responder negativamente aos negociadores argentinos, os representantes do Brasil apresentaram uma contraproposta, que ainda não obteve o aval de Buenos Aires. Essa alternativa prevê a realização de um estudo profundo sobre a estrutura industrial em cada país, de forma a alimentar políticas convergência para o desenvolvimento do setor, e o financiamento de obras de infra-estrutura e de exportações de produtos brasileiros com componentes argentinos por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Programa de Financiamento das Exportações (Proex).