Título: Crise é tema paralelo do Mercosul
Autor: RaquelMassote
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2004, ECONOMAI & NEGÓCIOS, p. B-3

Reuniões preparatórias da 27.ª Cúpula do bloco, emBelo Horizonte, ignoram assuntos de conflito entre Brasil eArgentina

Propostas para eliminar a cobrança dupla de tarifas de importação dentro do Mercosul e os acordos do bloco com a Índia e um grupo de países do Sul da África dominaram o primeiro dia de negociações preparatórias ao 27ª encontro de cúpula do Mercosul. Todas essas discussões deverão prosseguir hoje, numa preparação para a reunião de ministros, que começa amanhã. Temas mais palpitantes, como as propostas argentinas para reduzir as diferenças entre as economias do bloco, não constam da pauta formal do encontro. Essas conversas estão sendo tratadas em paralelo e o próximo encontro entre técnicos dos governos brasileiro e argentino para discutir esses temas está marcada para janeiro próximo. É de se prever que o assunto seja tratado nas discussões em Belo Horizonte e Ouro Preto, mas nenhum avanço é esperado. AArgentina ameaça novamente adotar medidas protecionistas contra a entrada de produtos brasileiros, agora carne suína, tecidos (principalmente veludo), baterias de automóveis, além da embalagem plástica PET, segundo informou o jornal La Nación. O chanceler argentino, Rafael Bielsa, disse sábado passado que seu país será ¿irredutível¿ com o Brasil e que não fará nenhum ¿esforço para ser simpático¿. Ontem, em entrevista à TV Alterosa, em Minas, o diretor do Departamento de Integração, José Antônio Marcondes Carvalho, insistiu que o caminho é a integração e observou que os sócios estão conscientes dessa realidade. A bitributação é um problema que se refere mais ao Paraguai, mas os demais países, entre eles o Brasil, não o eliminaram por completo. Em tese, uma mercadoria produzida fora do Mercosul é tributada como Imposto de Importação uma única vez. Essa tarifa é comum aos quatro países e está consolidada na tabela da Tarifa Externa Comum (TEC). Umavez dentro do bloco, a circulação deveria ser livre. No entanto, esses produtos acabam sendo taxados com a TEC uma segunda vez, quando vão de um país para outro dentro do Mercosul. Isso ocorre principalmente no Paraguai, onde o Imposto de Importação é a principal fonte de receitas fiscais. Os técnicos discutem maneiras de eliminar esse problema. Existe um reconhecimento de que o Paraguai leva desvantagem, pois não tem porto.O grosso das mercadorias que se dirigem àquele país ingressa pelo Brasil, que acaba ficando com a receita do Imposto de Importação. Comos indianos, a idéia é reduzir ou eliminar as tarifas de importação de 450 produtos de cada lado. OMercosul pretende exportar produtos tão diversos como autopeças e carne suína. Os indianos querem tratamento privilegiado principalmente para produtos químicos. A principal dificuldade dos negociadores tem sido lidar com a desconfiança dos indianos, que não têm tradição de acordos comerciais. Com os africanos, a conversa é mais fluida e o tratamento privilegiado será conferido a 1.000 produtos de cada lado. Também nesse caso, o Mercosul centra fogo na exportação de mercadorias de alto valor agregado, como autopeças emáquinas