Título: Terras de dar inveja e uma base científica muito sólida
Autor: Larry Rohter
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2004, ECONOMIA & NEGÓCIOS, p. B-4

Realmente, a agricultura é agora um negócio de US$ 150 bilhões ao ano no Brasil, respondendo por mais de 40% das exportações do País e criando o que os brasileiros chamam de ¿âncora verde¿ da sua economia. Já sendo o maior exportador mundial de frango, suco de laranja, açúcar, café e tabaco, segundo números do Ministério da Agricultura, o Brasil logo espera acrescentar a soja à lista, dependendo do que acontecer nesse mercado volátil. Com um rebanho, que se alimenta de grama, de 175 milhões de cabeças que é o maior do mundo, superou os Estados Unidos como o maior exportador mundial de carne bovina no ano passado. Nos primeiros nove meses de 2004, a venda de carne bovina para o exterior aumentou 77% em relação ao mesmo período de 2003, o que levou o governo a prever rendimentos de US$ 2,5 bilhões com as exportações de carne este ano. No geral, a rentabilidade agrícola, auxiliada em parte pela doença da vaca louca na Europa e pela gripe do frango na Ásia, tende a dar ao Brasil um superávit comercial de mais de US$ 30 bilhões. As vantagens do Brasil começam com a disponibilidade de grandes trechos de terra barata, especialmente aqui nesta região de savana tropical bem irrigada, conhecida como cerrado. Maior que a região de cultivo de grãos americana, mas considerada como inútil para agricultura até um quarto de século atrás, o cerrado atravessa o coração do Brasil e sua vastidão permite economias de escala de dar inveja a produtores de outras partes do mundo. PESQUISAS DE SUCESSO ¿O que está impulsionando esta revolução é que os brasileiros descobriram como usar os solos tropical e de savana que sempre foram considerados pobres¿, disse G. Edward Schuh, diretor do Centro de Política Econômica Internacional da Universidade de Minnesota. ¿Eles aprenderam que, com aplicações modestas de cal e fósforo, conseguem quadruplicar ou quintuplicar sua produção, não só de soja, mas também de milho, algodão e outros produtos de primeira necessidade.¿ A descoberta de como enriquecer o solo e torná-lo altamente produtivo é resultado de pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O maior sucesso da empresa foi modificar as culturas para crescerem nesses solos alterados. Por exemplo, até recentemente, não se acreditava que a soja pudesse florescer em solos e climas tropicais. Mas pesquisadores da Embrapa e de outras instituições semelhantes, públicas ou privadas, desenvolveram mais de 40 variedades de soja especialmente adaptadas ao cerrado. Hoje, o produto responde por quase metade das exportações agrícolas brasileiras e é o principal cultivo desta região. Os pesquisadores da Embrapa também desenvolveram raças de gado para os trópicos, usando uma variedade original da Índia, assim como o ¿suíno tropical¿ que tem menos teor de gordura e colesterol que seu equivalente americano e oferece uma produção maior de presunto e lombo. Talvez o mais surpreendente é que os brasileiros também estão trabalhando em variedades de trigo tropical. Desde 2000, a produção anual de trigo do Brasil quase quadruplicou, chegando a 6 milhões de toneladas. ¿Uma das principais razões pela qual acreditamos que o Brasil tem chance de prosperar ainda mais é que eles têm uma base científica muito sólida¿, afirmou Daniel Lederman, economista do Banco Mundial especializado em agricultura.