Título: Abertura econômica ajuda a produção
Autor: Larry Rohter
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2004, ECONOMIA & NEGÓCIOS, p. B-4

Com o fim da paridade cambial e das restrições a importações de máquinas, exportações deram um salto

As mudanças nas políticas econômicas também desencadearam o surto de crescimento aqui. No início da década de 1990, por exemplo, o Brasil suspendeu restrições a exportações há muito em vigor, o que resultou num súbito aumento na compra de tratores, colheitadeiras, fertilizantes, pesticidas e sementes. Umoutro grande salto nas exportações ocorreu em 1999, quando o governo desvalorizou a moeda e permitiu que o real, que vinha sendo comercializado quase par a par com o dólar, flutuasse. Hoje, um é comercializado a quase US$ 3, o que significa que os rendimentos dos produtores agrícolas quase triplicaram. A prosperidade brasileira foi mais do que bem-vinda pelas principais empresas internacionais de trading agrícola, o que foram rápidas em pegar novas oportunidades. Nesta cidadezinha de 30 mil habitantes, aArcher Daniels Midland, Bunge e Cargil não apenas construíram enormes armazéns e silos ao longo da principal rodovia como também forneceram crédito aos agricultores numa escala muito além dos meios do governo brasileiro. ¿É um bom negócio para eles, mas temos que admitir que devemos muito às empresas de trading¿, disse Lawish, cuja família, se mudou do Rio Grande do Sul para cá. ¿Quando precisamos deles, eles nos apoiaram e agora que estamos prosperando, nossa relação comercial continua a se expandir ano a ano¿. Para contra-atacar os progressos sul-americanos, os Estados Unidos e a Europa têm elevado os subsídios de seus próprios agricultores. Mas em duas decisões marcantes, recentemente a Organização Mundial do Comércio determinou que tais subsídios para o algodão e o açúcar são ilegais e devem ser retirados gradualmente. O governo americano recorreu da decisão referente ao algodão, mas a expectativa geral é que ele perca, e muitos economistas dizem que omesmo princípio poderá ser aplicado a outros cultivos. Tudo isso obviamente terá um impacto crescente sobre a agricultura nos Estados Unidos. Os especialistas dizem que algumas áreas não são competitivas com a América do Sul talvez tenham de mudar de um cultivo para outro, enquanto outras enfrentarão pressão para abandonar a agricultura de vez. Alguns agricultores americanos e europeus já fizeram isso e estão começando a comprar terra cultivável aqui. Wolfgang Hudepohl, um corretor de imóveis de Cuiabá, a capital de Mato Grosso, calcula que tenha vendido 60 fazendas para estrangeiros nos últimos anos. ¿Os estrangeiros não apenas gostam dos baixos preços, mas também dos baixos custos de produção e do fato de não estarem amarrados a regulamentos¿, disse. Nas bordas da fronteira agrícola, em Estados como Maranhão e Piauí, a centenas de quilômetros daqui, a terra ainda é incrivelmente barata, chegando a US$ 20 por acre em algumas áreas remotas. Mas nos lugares onde o surto de crescimento está chegando à sua explosão plena, como aqui, o preço das terras está subindo rapidamente. ¿Há sete anos, comprei 6.175 acres (2.500 hectares) e paguei US$ 125 mil¿, disse José Luiz Lorenzi, um fazendeiro e gerente da agência da John Deere daqui, que é a mais movimentada do Brasil. ¿Recentemente, recebi uma oferta de US$ 1,5 milhão pela mesma terra, mas não quero vender. Quero comprar mais terras porque não existe melhor investimento no mundo do que comprar terras em Mato Grosso.¿