Título: GM se prepara para a liderança
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2004, ECONOMIA & NEGÓCIOS, p. B-12

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Na próxima semana, o presidente da General Motors, Ray Young, completará 43 anos.Além do aniversário, ele tem outros motivos para comemorar. Pela primeira vezemquase oito décadas, a montadora, que já é a número 1 no mundo, está prestes a assumir essa posição no Brasil em volume de vendas. No ano em que a produção nacional chega ao recorde de 2,2 milhões de veículos, a empresa também atinge sua melhor marca desde que chegou ao País, em 1925: 520 mil unidades. Na visão de Young, entretanto, o melhor presente será reportar à matriz que os prejuízos da filial brasileira foram reduzidos à metade. Ele não revela números, mas diz que as perdas ¿não ultrapassarão dois dígitos¿. Nos últimos 6 anos, os resultados negativos sempre ficaram acima dos US$ 100 milhões. No segundo semestre, diz ele, aGMjá obteve lucro operacional, resultado que espera consolidar em 2005. No mês passado, Young teve uma reunião nosEUA com o presidente mundial da GM, Richard Wagoner ¿ que também já presidiu a filial brasileira ¿ para discutir o orçamento de 2005. Ouviu do chefe uma ordem que pretende cumprir: ¿Ganhe dinheiro.¿ Por isso, Young diz que, mais importante que ser líder, são os resultados financeiros. Na prática, entretanto, a GMparece buscar ambos os resultados com igual empenho. No ano todo, foi a mais agressiva em campanhas de venda. No acumulado até novembro, a GM já desbancou a Fiat, líder nos últimos dois anos em vendas de automóveis e comerciais leves. Está 8,5 mil veículos à frente. Mas, para a montadora, não basta estar no topo de um segmento. A empresa corre agora para ultrapassar a Volkswagen no mercado total, que inclui ônibus e caminhões, produtos que a marca não produz mais no País. Somando os modelos da coligada Audi, a Volks vendeu até o mês passado 2.113 veículos a mais que a concorrente, volume que os concessionários Chevrolet consideram possível de ser superado nestes últimos dias do ano. Cauteloso, Young prefere dizer que não há garantias de vencer a batalha. Mas, nos bastidores do mercado, há quem diga que a campanha publicitária com o mote de liderança está quase pronta. ¿Não fazemos isso¿, rebate ele. Em 2003, a GMperdeu a liderança para a Fiat por uma diferença de 7 mil carros. Foi um ano em que as duas travaram uma guerra que envolveu grandes campanhas promocionais e até ações não muito bem vistas no mercado. Uma delas foi o licenciamento de veículos por parte dos concessionários. Comoos dados são contabilizados pelo número de licenciamentos feitos nos órgãos de trânsito, a medida inflava os resultados mensais. Os carros continuavam nas lojas e eram revendidos como usados, pois, no documento, o consumidor passava a ser o segundo dono. Também houve desova de estoques em locadoras, que depois revendiam os carros no mercado, em vez de incluí-los na frota. Essa segunda ação foi denunciada à Secretaria da Receita Federal de São Paulo pelas próprias revendas. O órgão multou um grande grupo com lojas emCampinas e São Paulo e notificou todas as montadoras sobre a irregularidade, pois esse tipo de negócio acarreta sonegação de impostos. ¿Todas ficaram sabendo que estamos de olho e, neste ano, não soubemos de nenhum caso¿, diz o supervisor de Fiscalização da Secretaria, Sérgio Mumare. NOVA FASE Longe desses problemas na época, Young, omais jovem executivo à frente de uma montadora no País, assumiu a presidência da GMem janeiro. Chegou num ano em que a indústria vive boa fase de recuperação, apesar das reclamações de que o mercado interno está abaixo do que esperam. Além da produção recorde, as exportações também serão a maior da história, com um total de US$ 8,6 bilhões. As vendas externas da GM seguem a tendência. Devem chegar a US$ 1,5 bilhão, 25% a mais que em 2003. O valor inclui as operações da Argentina. ¿Vamos manter esse mesmo nível no próximo ano¿, diz Young. Ele espera uma melhora no câmbio para evitar perda de competitividade dos carros brasileiros. ¿Nossa indústria precisa de câmbio acima de R$ 3; meu desejo é que fique em R$ 3,20¿, afirma o executivo. Nas vendas internas, o grupo quer manter a participação obtida neste ano, de 22,8%, o que significaria vendas próximas a 370 mil veículos. Young promete muitos lançamentos, sem dar detalhes.Umdeles será o novo Astra, no segundo semestre. Um carro totalmente novo será fabricado em Gravataí (RS), no início de 2007. Young insiste em que os resultados de 2005 estarão vinculados amedidas a serem adotadas pelo governo, comomelhora da infra-estrutura dos portos e reforma tributária. ¿Estou confiante de que o governo adotará medidas de longo prazo para melhorar o mercado.¿ O setor ainda opera com uma ociosidade de 30%.

Os prejuízos da filial brasileira da montadora caíram pela metade