Título: Diretor da Saúde defende pesquisa do IBGE sobre fome
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Nacional, p. A4

Instituto não fez enquete, mas um levantamento científico, diz Guimarães

Ao contrário do que sustentou anteontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a fome pode, sim, ser medida em pesquisa. Quem garante é o diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães. "O presidente está certo ao dizer que a fome, por ser um estigma social, não pode ser avaliada numa pesquisa de opinião", afirmou. "Mas o trabalho do IBGE não foi uma enquete para questionar quem passa ou não fome, mas um trabalho com metodologia específica para verificar qual é o índice de massa corpórea dos entrevistados." O Ministério da Saúde foi cofinanciador do estudo do IBGE, fornecendo equipamentos e recursos para a pesagem de todas as pessoas das famílias que participaram do estudo. Na pesquisa, a população entrevistada foi medida e pesada. Os resultados do trabalho, divulgados na semana passada, mostram que entre a população adulta brasileira há mais obesos do que desnutridos.

Para Guimarães, os índices obtidos no estudo não tiram em nenhum momento a importância do Programa Fome Zero. "Criou-se uma falsa polêmica a partir dos resultados do trabalho", disse. Para ele, focalização de política não funciona nesta área. "Temos de combater os dois problemas, desnutrição e obesidade, de forma simultânea", defendeu.

O diretor não contesta a informação de que a desnutrição vem diminuindo ao longo dos anos. "Mas a fome representa uma dívida social, uma vergonha que tem de ser definitivamente riscada do cenário nacional", defende. Guimarães lembra ainda que, com dinheiro, vontade política e ações adequadas, é possível eliminar a desnutrição do País.

O mesmo, porém, não ocorre com a obesidade. O número de pessoas acima do peso vem crescendo não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Em todos os países, a reversão desta tendência tem se mostrado uma árdua tarefa. "Temos de mudar comportamentos, há ainda muito desconhecimento sobre como combater a obesidade."

O secretário de Assistência à Saúde, Jorge Solla, tem visão semelhante. "Na área da saúde, temos de combater problemas aparentemente contraditórios, como neste caso: obesidade e desnutrição", disse.

Documento elaborado pelo ministério, analisando dados apresentados na pesquisa do IBGE, observa que a pesquisa avalia apenas a população acima de 20 anos. O texto informa que os índices do estudo não podem ser extrapolados para outros grupos etários, como crianças e adolescentes.

"As crianças, por exemplo, pelas características dessa fase do curso da vida, têm maior risco de desnutrição. Assim, não se pode ainda afirmar que elas também estão expostas a baixo risco dessa doença", informa o texto.