Título: Ajuda mundial ao Haiti ficou em 42% do prometido
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Nacional, p. A10

Como denuncia o Brasil, verbas para salvar o país estão muito abaixo do esperado

Dados oficiais da ONU obtidos pelo Estado revelam que os principais doadores de recursos ao Haiti não cumpriram suas promessas em 2004 e só destinaram 42% do total que a ONU necessitava para atender às emergências daquele país. A ONU estimou em março que necessitaria, em caráteçr de urgência, de US$ 35 milhões para salvar o país da situação de caos, sem contar a tarefa de reconstrução do Haiti. Nove meses depois, o apelo feito pela ONU não conseguiu levar um só centavo para as agências especializadas das Nações Unidas para a agricultura, para a saúde ou para a moradia em suas atividades de emergência no país.

Os Estados Unidos foram, individualmente, o país que mais ajudou os projetos de emergência da ONU - com US$ 6 milhões, ou 17% do que a instituição recebeu. Os ingleses contribuíram com 11% e os franceses com 2,2 milhões. Em abril e maio, Paris ainda contribuiu com mais US$ 700 mil. No geral, a maioria das agências da ONU não conseguiu nem metade do que havia pedido. A Unicef, por exemplo, coletou aenas 42% do que queria para os projetos no Haiti.

CETICISMO

Em Paris, fontes diplomáticas do governo disseram não acreditar que o Brasil possa retirar seu contingente de 1.200 homens do Haiti, como se divulgou ontem, a partir de contatos com o ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim, em Porto Principe. O acordo, segundo o chanceler, era que o Brasil aceitaria chefiar as forças da ONU no Haiti se os países industrializados da Europa e os EUA também cumprissem a sua parte, isto é, financiassem o processo de reconstrução do país. O próprio presidente Jacques Chirac insistiu junto ao presidente Luis Inácio Lula da Silva para que o governo brasileiro aceitasse essa missão, lembrando que os países ricos, já engajados em outras frentes, por exemplo n o Kosovo, Iraque e Afeganistão, ajudariam materialmente.

O Haiti é hoje um "narcoestado, segundo a União Central de Informação Financeira, um organismo francês. A droga chega por mar, de países como a Colômbia, atravessa o território e segue para o norte, em direção aos centros consumidores, na Flórida e na Europa. Fonte diplomática francesa lembrou que, nove meses após a deposição do presidente Aristide, a situação se deteriorou ainda mais e até agora não foram criadas condições para que a ajuda internacional possa ser bem utilizada. Até agora, avalia esse diplomata, o governo transitório de Gerard Latortue não conseguiu estabelecer condições mínimas de segurança. " A moralidade é uma palavra que desapareceu do vocabulário hatiano", revela a mesma fonte. Afinal, o Haiti lidera a lista dos países mais corruptos do planeta, elaborada pela organização Transparency International.