Título: Novo relatório do Banestado omite Franco e acusa Meirelles
Autor: Leonel Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Nacional, p. A11

Presidente da CPI do Banestado contraria posição de relator; sessão foi suspensa

Prejudicada, desde sua criação, pelos conflitos entre petistas e tucanos que a controlam, a CPI do Banestado ficou ontem ainda mais confusa, com um segundo relatório final, divulgado pelo seu presidente, o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). Esse relatório alternativo diverge do apresentado na semana passada pelo relator, deputado José Mentor (PT-SP). Primeiro, pede o indiciamento - por evasão de divisas - do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Além disso, não menciona o ex-presidente do BC Gustavo Franco, que era incriminado por Mentor por ter autorizado o recebimento por agências bancárias de Foz do Iguaçu de depósitos de estrangeiros em reais, convertidos em dólar e remetidos ilegalmente ao exterior. Antero também culpa por evasão de divisas e crimes contra o sistema financeiro outras 91 pessoas, entre elas o ex-diretor do BC Luiz Alberto Candiota e o ex-presidente do Banco do Brasil Cassio Casseb, inocentados pelo relator. Qualquer dos relatórios só terá valor legal se aprovado pelos integrantes da comissão. Com a CPI vivendo nova crise interna, dificilmente isso ocorrerá. Mentor avisou que vai pedir a impugnação do relatório de Antero.

Poupado pelo relator, Meirelles é responsabilizado por Antero pela remessa ilegal de US$ 1 bilhão em setembro de 1998 feita pela empresa Boston Comercial e Participações Ltda., subsidiária do Banco de Boston, na ocasião presidido por Meirelles.

O pedido de indiciamento de Meirelles, Candiota e Casseb provocou mais um impasse na CPI. Convocada para votar o relatório final, a sessão de ontem foi suspensa a pedido do relator, que alegou o descumprimento de um acordo entre líderes do governo e da oposição para adiar a votação.

O adiamento serviu para o governo tentar votar o Orçamento da União e o projeto das Parcerias Público-Privadas antes do fim do ano. Nova reunião da CPI foi marcada para segunda-feira.

INTERESSES

No seu relatório, Antero pede a saída de Meirelles do cargo por incompatibilidade com seus interesses como empresário. Documentos da CPI mostram, segundo o senador, que ele é o dono das empresas off shore Silvânia One e Silvânia Two, com sede nos EUA, detentoras do capital da empresa brasileira Silvânia Empreendimentos e Participações Ltda., processada pelo BC há quatro anos. "Como presidente do BC, Meirelles não pode fiscalizar a si mesmo. Ele não pode continuar no cargo."

Outra suposta incompatibilidade, segundo Antero, foi o arquivamento de casos investigados pelo BC, como as remessas da empresa Gtech de gestão de loterias, envolvida no caso Waldomiro Diniz; da Vega Engenharia, denunciada por irregularidades em contrato com a Prefeitura de São Paulo; e de Paulo Maluf e família.

O relatório de Antero também pede a investigação, de 215 laranjas que enviaram dinheiro ao exterior e do ex-presidente da Transbrasil, Celso Cipriani, amigo de Mentor.