Título: Brasileiro está se endividando mais e a um custo maior
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Economia, p. B5

Embalados pelas compras de fim de ano, os brasileiros estão se endividando mais, a um custo maior. Em novembro, a concessão de novos empréstimos para pessoas físicas aumentou 7,2%, alcançando R$ 34,9 bilhões. Com isso, o estoque de crédito no País, sem incluir os financiamentos rurais e habitacionais, subiu 3,7% em relação a outubro, fechando o mês em R$ 112,5 bilhões. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, esse crescimento se deu praticamente em todas as modalidades de crédito, mas ele alerta que muitas pessoas ainda estão optando por operações mais caras, quando há outras mais baratas. "Houve aumento do uso do cheque especial, que é uma modalidade com custo elevado. O problema é que, muitas vezes, pelo costume de usar essa linha que é de fácil acesso, e pelo desconhecimento da existência de outras mais em conta, os consumidores deixam de se beneficiar de opções mais baratas", alertou Lopes.

Enquanto a taxa do cheque especial estava, no mês passado, em 142% ao ano, alta de 0,9 ponto porcentual em relação a outubro, no crédito pessoal, que manteve o custo estável no mês, a taxa era quase a metade, 73,8% ao ano. Já os juros dos empréstimos com desconto no contracheque registraram média de 38,9% ao ano.

O crédito com desconto na folha de pagamento tem crescido de forma significativa e alcançou, em novembro, o saldo de R$ 11,725 bilhões. O total é 7,1% maior do que os R$ 10,945 bilhões de outubro e 89% maior que no início do ano. Mas o estoque de operações no cheque especial também subiu 2,5% no período, passando de R$ 10,726 bilhões, em outubro, para R$ 10,994 bilhões, no mês passado. Já o crédito pessoal pulou de R$ 41,353 bilhões para R$ 42,456 bilhões, uma alta de 2,7%. "Todo fim de ano as pessoas usam mais o cheque especial", afirmou Lopes.

No geral, a taxa média cobrada pelos bancos nas operações com pessoas físicas cresceu apenas 0,2 ponto porcentual no mês passado, atingindo 63,4% ao ano. Enquanto isso, o spread (que mede a diferença entre o custo de captação dos bancos e o valor fixado para os empréstimos) caiu 0,3 ponto porcentual, chegando a 45,6% ao ano em média. Isso mostra que os bancos estão consumindo a gordura que tinham acumulado, já que o custo de captação está em alta, em função do aumento do juro básico nos últimos meses.

Apesar de a elevação da taxa final ter sido menor, Lopes acredita que ela tem sido suficiente para o momento de retomada econômica. "Com o ritmo de expansão do nível de atividade, o crédito estaria crescendo muito mais", afirmou, rebatendo a alegação de que a política monetária em vigor não estaria surtindo efeito para conter a demanda.

Para as empresas, o volume de crédito ficou praticamente estável em novembro. A alta verificada na demanda por empréstimos de prazo mais curto para suprir problemas de caixa e recomposição imediata de estoques foi compensada pela queda em linhas externas. A taxa geral de aplicação das operações com pessoas jurídicas caiu 0,2 ponto porcentual em novembro, passando de 31,1% ao ano, em outubro, para 30,9% no mês passado.