Título: IPCA-15 chega a 0,84%e surpreende
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Economia, p. B6

Preços administrados pelo governo, como gasolina e ônibus, são responsáveis pela disparada

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) surpreendeu e disparou para 0,84% em dezembro, ante 0,63% em novembro. Pressionada por preços administrados como gasolina e ônibus urbanos, a taxa ficou bem acima das estimativas do mercado financeiro (0,66% a 0,75%) e estimulou apostas de novas elevações na taxa básica de juros no início do próximo ano. O IPCA-15 é uma prévia do IPCA - referência para as metas de inflação do governo - do mês. Os dois índices, calculados com a mesma metodologia pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diferem só no período de coleta, sendo que a pesquisa do IPCA-15 é feita da segunda metade do mês anterior e prossegue até por volta do dia 15 do mês de referência, e a do IPCA, em todo o mês civil.

As pressões de dezembro levaram o IPCA-15 a fechar o ano com alta de 7,54% - abaixo, portanto, do teto da meta de inflação de 8% definida para este ano. O IPCA do mês, assim como a inflação medida pelo índice em 2004, só será divulgado pelo IBGE no início de janeiro.

Em dezembro, houve uma concentração de reajustes, especialmente de preços administrados (monitorados pelo governo). As contas da analista Ana Paula Almeida, da Tendências Consultoria, mostram que os administrados subiram 1,64%, enquanto os preços livres (definidos pelo mercado) registraram aumento de 0,50%.

As maiores pressões sobre a inflação vieram de combustíveis, telefone fixo, ônibus urbanos e vestuário que, juntos, responderam por 0,45 ponto porcentual da inflação, ou quase metade da taxa. Além da gasolina (3,45%) e do álcool (8,64%), outros itens importantes na despesa das famílias também contribuíram para elevar o resultado do índice.

As tarifas dos ônibus urbanos, refletindo aumento em quatro regiões, ficaram em média 1,74% mais caras. As contas de telefone fixo aumentaram 1,89% e os artigos de vestuário tiveram alta de 1,13%. Também houve pressão dos aumentos nos preços de cigarros (2,71%), conserto de automóvel (2,16%), seguro de automóvel (2,15%), ônibus intermunicipais (1,59%), empregado doméstico (1,13%) e gás de cozinha (1,03%).

No grupo dos alimentos, a alta em dezembro (0,19%) foi basicamente resultado do aumento de preços das carnes (3,31%).

Os preços para o cálculo IPCA-15 foram coletados no período de 12 de novembro a 10 de dezembro e comparados com os preços vigentes de 14 de outubro a 11 de novembro.

Logo após a divulgação da taxa do IBGE, o mercado financeiro começou a reagir com mau humor. Um relatório do Banco Safra, divulgado em seguida, avisou que "é bem provável que uma parte do mercado passe a apostar em uma nova alta dos juros em janeiro".

Para o economista Jankiel Santos, do ABN Amro Bank, os dados do IPCA-15 mostram que, para atingir a meta de inflação (IPCA) de 5,1% em 2005, o trabalho do Banco Central "pode ser mais árduo do que previamente imaginado", com possíveis novas elevações de juros no início do próximo ano.