Título: Argentina quer reserva de mercado para toalhas
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Economia, p. B9

Empresários do setor estão dispostos a abrir mais uma frente de batalha contra invasão de produto brasileiro

Os empresários argentinos estão dispostos a abrir mais uma frente de batalha na guerra comercial que travam com o Brasil desde julho. Desta vez são os fabricantes argentinos de toalhas de banho que protestam contra a invasão brasileira. Eles denunciaram ontem que os empresários brasileiros exportam para a Argentina toalhas a preços muito inferiores que os existentes no próprio Brasil. Com base em um relatório da Fundação Pró-Tejer, os empresários afirmam que, analisando preços de hipermercados argentinos e brasileiros, a diferença dos valores das toalhas brasileiras vendidas na Argentina seria 57% inferior ao registrado em média no mercado de origem.

"E, o que é pior, no resto do mundo os produtores brasileiros comercializam as toalhas com um preço 43% mais caro do que na Argentina", afirmam os empresários em um comunicado divulgado em Buenos Aires.

Segundo a Pró-Tejer, no consumo aparente de 2004 o Brasil teria ficado com 63% do mercado argentino. Os produtores locais controlariam 33% do mercado, enquanto as toalhas provenientes de terceiros países ficaram com 4%.

RESERVA DE CAÇA

A Pró-Tejer, que representa o lobby mais ativo do setor têxtil argentino, afirma que as toalhas de banho made in Brazil entram no mercado argentino a US$ 4,57 por quilo. A Fundação argumenta que o mesmo produto brasileiro, em outros países, é vendido por US$ 6,56 o quilo. "Isto significa que o Brasil, apesar dos maiores custos que implica comercializar com países do resto do mundo com barreiras alfandegárias e para-alfandegárias, lhes vende 43% mais caro do que para a Argentina."

Segundo os empresários argentinos, desde o início do ano até o dia 13 de dezembro, a balança bilateral do comércio de toalhas foi superavitária em US$ 22,11 milhões para os empresários brasileiros. A Fundação argumenta que "o mercado nacional se transformou atualmente em uma reserva de caça da indústria brasileira de toalhas".

Nas últimas duas semanas, a escalada de pedidos protecionistas contra o Brasil voltou a intensificar-se em diversos setores industriais argentinos. "Para o ano que vem, o cenário poderia ser pior", afirma o diretor do Centro de Estudos Bonaerenses (CEB), Dante Sica. Segundo ele, em 2005 o presidente Néstor Kirchner enfrentará decisivas eleições parlamentares, que definirão sua cota de poder no Congresso Nacional. Sica acredita que isso poderia tornar o governo mais sensível para ouvir e atender os pedidos protecionistas do empresariado local.