Título: Lula admite compensar produtores do Sul
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Economia, p. B9

Presidente avalia meios de evitar prejuízos da concorrência dos argentinos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, pela primeira vez, a possibilidade de o Brasil adotar "medidas compensatórias" para os produtores agrícolas do Sul, que estão sendo prejudicados pela concorrência dos países do Mercosul, particularmente da Argentina e do Uruguai. As principais preocupações são com o arroz, o trigo, o alho, a carne, a farinha de trigo e o vinho. Mas, segundo Lula, todas as medidas seriam tomadas de forma cautelosa, para não criar um novo contencioso com a Argentina, com quem o Brasil já tem problemas por causa das cotas de importação de produtos brasileiros.

"O governo tem de tomar medidas compensatórias internas para não criar adversidade com a Argentina, que é um grande parceiro comercial", disse Lula, em entrevista à Rádio Gaúcha, durante um churrasco na noite de segunda-feira, oferecido por parlamentares gaúchos.

"Tenho convicção de que o problema, na área do arroz, no Rio Grande do Sul, é muito sério", afirmou Lula, ao comentar a sua preocupação com a competitividade, que considera estar deixando de existir com a entrada de produtos daquele país no Brasil.

"Temos compreensão de que o governo tem de tomar atitudes, de forma a evitar que o Brasil e os produtos brasileiros sejam prejudicados", comentou o presidente, sem especificar se as medidas teriam a forma de crédito, de compra de estoques pelo preço mínimo ou outra.

Essa preocupação já havia sido manifestada pelos ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e do Desenvolvimento, Luiz Furlan. Quando esteve no Rio Grande do Sul, no início do mês, Lula confidenciou ao governador gaúcho, Germano Rigotto, a sua apreensão com essa questão.

Na época, Lula afirmou que, da mesma forma como existem cotas para a entrada de produtos brasileiros na Argentina, devia haver cotas para entrada de vinhos, carne, alho, arroz e trigo argentinos no Brasil.

No caso do arroz, a preocupação não é só com o produto argentino, mas também com o uruguaio. A concorrência do Mercosul está trazendo grandes prejuízos ao agronegócio brasileiro. Com a entrada de um milhão de toneladas de arroz desses dois países no Brasil, o preço do produto despencou e seu valor de mercado (R$ 23,00 a saca) não cobre os custos (que chegariam a R$ 30,00).

Em relação à farinha de trigo, a situação não é diferente, o que deixou o ministro Furlan assustado. Os dados registrados pelo governo são de que US$ 50 milhões já foram importados, com um problema adicional: como há tributação diferenciada entre a farinha pura ( que paga imposto maior) e a misturada (paga imposto menor), os argentinos estão mandando para o Brasil uma farinha misturada apenas com sal, para ter preço agregado e pagar imposto menor.