Título: Expansão do setor de celulose favorece floresta
Autor: Milton F. da Rocha Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Negócios, p. B13

Investimento de US$ 14,4 bilhões da indústria garantirá 1,2 milhão de hectares de mata em dez anos

O investimento de US$ 14,4 bilhões na ampliação da produção de celulose e papel no Brasil deverá gerar 1,2 milhão de hectares em novas florestas, dentro de 10 anos. Somados aos atuais 1,5 milhão de hectares, deverão assegurar ao País uma área de 2,7 milhões de hectares de vegetação plantada. Isto permitirá a preservação das matas nativas, avalia o empresário Boris Tabacof, que acaba de presidir, em Bruxelas, a reunião do Comitê de Assessoramento das Áreas de Papel e Produtos de Madeira, ligado à FAO, órgão da ONU para a alimentação e agricultura.

A reunião do comitê, integrado por 24 membros, serviu para avaliar as perspectivas do início da aplicação do Protocolo de Kyoto, que começa a vigorar a partir de 1.o de janeiro. Tabacof entende que o Brasil tem boas possibilidades na área de redução do gás carbônico na atmosfera. "O mundo sabe que o Brasil pode apresentar uma importante contribuição para a redução do gás carbônico", sustenta.

O empresário brasileiro destaca que a criação de novas florestas plantadas, com renovação constante, é um passo importante: "A experiência brasileira está se fortalecendo, com a ampliação das florestas plantadas. Pequenos agricultores que possuem áreas já começam a se movimentar, e cooperativas para a introdução de novas florestas já estão em formação".

O comitê que ele preside é um órgão de assessoramento da FAO vinculado à Diretoria Florestal do organismo. A reunião de Bruxelas foi realizada em paralelo ao encontro de empresários dos principais países fabricantes de papel e celulose, como os europeus, Brasil e Canadá.

Além do Protocolo de Kyoto, um dos temas mais discutidos na reunião foi o corte ilegal de madeira e suas implicações ambientais. Chamaram a atenção, entre outros problemas, a exploração ilegal de mogno na Amazônia e o roubo de madeira na Indonésia. Tabacof salienta que um código será criado na ONU para tentar reduzir as atividades ilegais com a madeira, "mas este é um processo político demorado", disse.

Outro tema em debate pela ONU é a criação de normas para definir as condições das florestas plantadas. "O Brasil saiu na frente, pois aprimorou o uso do eucalipto. Florestas plantadas vão evitar o corte de florestas nativas", salienta o empresário, que também é membro do Conselho da Associação Brasileira da Indústria de Papel e Celulose (Bracelpa).

De acordo com Tabacof, o reflorestamento é uma maneira de aliviar a pobreza, transformando pequenos produtores agrícolas em plantadores de florestas. "Isto pode correr aqui, na África ou Ásia, com apoio da FAO. Podem se obter ainda ganhos com a venda de crédito de carbono", argumenta.

O empresário ressalta que o Brasil deverá fechar 2004 com exportações de cerca de US$ 3 bilhões em papel e celulose, e tem plenas condições de influenciar a política florestal no mundo todo. Salienta que foram 30 anos de desenvolvimento genético, criando uma árvore que pode ser cortada em até 7 anos.

"Quando falo em 2,7 milhões de hectares de florestas plantadas, essa madeira não atende somente aos fabricantes de celulose e papel, mas a outros setores que exigem a madeira como matéria-prima, o que amplia o seu aspecto social, empregando mais gente", diz.