Título: Previsões indicam crescimento em 2005
Autor: Ubiratan Brasil
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Cinema, p. 1

Além de mais lançamentos de filmes, convênio com MinC aumentará o número de salas de exibição

O ano de 2004 não foi tão bom para o cinema brasileiro como 2003, mas está melhor que as previsões iniciais. Faltando dez dias e um fim de semana atípico para o ano terminar, apura-se que o público dos filmes nacionais decresceu (15.413.850 agora ante 19.254.547 em 2003), enquanto o número de ingressos vendidos subiu (104.149.641 agora e 95.001.661 em 2003). Ou seja, a participação de nossos títulos no mercado caiu de 22% no ano passado para 15% em 2004. Não é alentador, mas é melhor que os 12% anunciados em fevereiro e em setembro deste ano, ao Estado, por profissionais de cinema. Os números são da revista Filme B, especializada em mercado de cinema, e seu diretor, Paulo Sérgio de Almeida, atribui esta pequena reação a dois filmes, Olga e Cazuza, o Tempo não Pára, os únicos com mais de 3 milhões de espectadores e que figuram entre as dez maiores bilheterias de 2004. "São surpresas porque não têm o apelo popular de Carandiru ou Cidade de Deus, que alavancaram as bilheterias em 2003 e 2002, respectivamente", comenta ele. "Em compensação, A Dona da História ficou aquém do esperado. Previa-se a repetição de A Partilha (ambos têm Daniel Filho na direção, estrelas globais no elenco e são baseados em peças teatrais de sucesso, mas o primeiro teve 1.260.492 espectadores em 2003, enquanto o segundo fez 1.447.428 em 2001).

O secretário de Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC), Orlando Senna, não considera esses dados desanimadores, pelo contrário. "É um recuo esperado. O desempenho de 2003 foi acima do normal e a queda de agora não quebra a curva ascendente desde a retomada", garante Orlando Senna. "É difícil fazer previsões, mas 2005 deve ter crescimento, porque teremos mais lançamentos que em 2004 e o número de salas pode aumentar, com a linha de financiamento aberta pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, em convênio com o MinC. As cidades médias, entre 100 mil e 200 mil habitantes, devem ser as mais beneficiadas."

Almeida concorda com Senna em quase tudo, a não ser no aumento do número de salas para 2005. "Deve continuar mais ou menos em 2 mil, pois não estão construindo novos cinemas atualmente", diz. Ele ressalta que, em compensação, há lançamentos promissores para o ano que vem, embora concorde com Senna que, previsão na sétima arte é sempre um risco. Além de Meu Tio Matou Um Cara (estréia no dia 31 e, portanto, soma bilheteria em 2005), que sai com 150 cópias, logo no início do ano saem o filme da Xuxa (com 350 cópias), Tainá 2 e O Casamento de Romeu e Julieta (ambos com 200 cópias). Todos são cand idatos a blockbusters. E há filmes como O Mistério de Irma Vap e A Casa de Areia, bons de festivais que são chamariscos de público.

Segundo Almeida, os números deste ano refletem a falta de títulos nacionais fortes e também grandes lançamentos americanos, como Homem-Aranha e Harry Potter e azarões, como A Paixão de Cristo e Garfield, sucessos inesperados de bilheteria. Juntos tiveram 21.203.260 espectadores, um quinto do total. "Em 2005 não deve haver filmes estrangeiros como esses", avisa Almeida, ressaltando que o benefício para os brasileiros é relativo. "É preciso olhar o mercado como um todo, sem esperar que o filme nacional tome o espectador do estrangeiro", explica. "O importante é haver um crescimento real. Se mais gente for ao cinema, a produção nacional e a estrangeira serão beneficiadas. E hoje o público já acredita no filme feito aqui, o que é um resultado positivo da retomada."

O produtor Leonardo Monteiro de Barros, da Conspiração Filmes, lembrou, em setembro, que a situação brasileira não difere de outros países, como Itália, Inglaterra, Alemanha e Espanha. "Lá, a média fica entre 10% e12%. Na França sobe para 30% ou 40% em conseqüência do investimento maciço do Estado", comenta, observando que o mercado só cresce se a oferta de filmes aumentar. Nesse sentido, a situação é promissora, pois dos 32 títulos de 2003, chegou-se a 51 este ano e deve-se alcançar 55 ou 56 no ano que vem.