Título: Lula se irrita com grupo de Marta
Autor: Ana Paula ScinoccaChristiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está mais aborrecido do que parece com o grupo político da ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Se dependesse dele, o PT paulistano - controlado pelos "martistas" - daria uma trégua de no mínimo seis meses para o prefeito José Serra (PSDB) na Câmara Municipal. Além de não ver vantagem em antecipar para este ano o debate sobre sua reeleição, na campanha de 2006, Lula acha que um partido que deixa o governo, como o PT em São Paulo, não pode partir para a oposição pura e simples. Vários interesses estão em jogo, a partir de agora, na relação entre o PT e o PSDB. O mais imediato é a presidência da Câmara dos Deputados, em Brasília - assunto que está praticamente resolvido. Hoje, porém, o que mais preocupa o Planalto é a devassa na gestão de Marta. Oficialmente, ministros do PT dizem não haver problema, mas, na prática, acham que eventuais irregularidades podem respingar na imagem do partido e do governo federal justamente no ano que antecede a disputa presidencial. CRÍTICAS Em conversas reservadas, integrantes do governo afirmam que a situação financeira de São Paulo é de terra arrasada. Pior: não poupam Marta e seu grupo de parte da responsabilidade pela penúria da capital, com dívidas que podem superar R$ 30 bilhões. Lula ficou especialmente irritado com os vereadores petistas, que não acataram as recomendações do presidente do PT, José Genoino - porta-voz das ordens do Planalto -, e, desrespeitando o critério da proporcionalidade, apoiaram o dissidente tucano Roberto Tripoli para o comando da Câmara Municipal. Lula defendia o aval a Ricardo Montoro, candidato de Serra. Em Brasília, os tucanos ameaçaram dar o troco, mas recuaram e decidiram apoiar o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para a presidência da Câmara, aliviando o esperado clima de revanchismo. A Serra também não interessa o confronto com o governo federal. Não sem motivo: o prefeito espera mais ajuda do Planalto para renegociar prazos da dívida paulistana e pisa em ovos. Foi só por isso que recuou nos ataques a Marta. Trata-se de um acordo tácito: o governo não cria dificuldades para Serra, como alguns petistas haviam prometido, e ele não faz auditoria na administração do PT. Para conseguir se enquadrar à Lei de Responsabilidade Fiscal - diminuindo a relação entre sua dívida e a receita -, a Prefeitura terá de desembolsar mais de R$ 7 bilhões no fim de abril. Até na campanha eleitoral do ano passado, porém, Marta avisou que seria impossível pagar essa quantia.