Título: Lula desconversa e comemora o 'jogo do ano'
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2004, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou comentar, ontem, a possibilidade de o Brasil retirar suas tropas do Haiti por falta de cooperação internacional - iniciativa que o ministro Celso Amorim havia mencionado horas antes, na visita a Porto Príncipe. Descontraído, Lula preferiu elogiar o convênio assinado entre os dois países para ajudar a população local e o fato de a FIFA ter reconhecido a partida de futebol entre brasileiros e haitianos como "o jogo do ano", para ele "uma coisa gratificante, uma homenagem aos atletas que se dedicaram tanto". Lula observou que "não é sempre" que se consegue convencer jogadores tão importantes a participar de uma promoção desse gênero. "As coisas estão andando bem por lá", desconversou depois, tentando amenizar o clima pesado provocado pela falta de apoio internacional e a reação negativa de haitianos à presença brasileira. A ida dos militares brasileiros para o Haiti foi motivo de polêmica nas Forças Armadas, cujos líderes entendiam que os problemas lá eram muito maiores do que a simples ida de uma força de paz. O ex-ministro da Defesa José Viegas foi um dos padrinhos da idéia, que convenceu o presidente Lula de mandar os soldados. MAIS UM ANO Cerca de 1200 homens estão no Haiti desde julho deste ano, a maioria do Exército. O efetivo aprovado pelo Congresso será substituído a cada seis meses e não há um prazo definido para ele permanecer no País. Em dezembro, uma segunda tropa foi enviada para substituir a primeira leva. Mas o comando da força acha que as tropas brasileiras permanecerão mais um ano no Haiti, pelo menos, até o segundo turno das eleições presidenciais, em dezembro de 2005. A força de paz mandada (chamada oficialmente de Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, MINUSTAH) para o Haiti é comandada por um brasileiro. o general do Exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira. Ele comanda não só o efetivo brasileiro, mas dos outros 15 países que enviaram também soldados: Argentina, Benin, Bolívia, Brasil, Canadá, Chade, Chile, Croácia, França, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Portugal, Turquia e Uruguai. Embora o total de militares autorizado seja de 6.700 homens, o Haiti recebeu menos da metade desse total - uma das razões de preocupação do governo brasileiro. Outra é que os países desenvolvidos ainda não mandaram a ajuda financeira considerada indispensável para se levar adiante a reconstrução do país. O próprio ministro da Defesa, José Alencar, quando se encontrou com o secretário de Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, apelou para que Estados Unidos e os demais países desenvolvidos mandassem recursos e completassem seu contingente no Haiti. Neste encontro, Alencar ressaltou que, sem recursos para ajudar nas coisas básicas - já que ele precisa ser totalmente reconstruído - ficará muito difícil conseguir resolver os problemas de um país cuja população está passando fome e onde não existe a mínima infra-estrutura. O vice-presidente e ministro Alencar chegou a sugerir, em outra ocasião, que seja enviado a Porto Príncipe um batalhão de engenharia para ajudar na reconstrução do país. Só que o aumento de efetivo depende de aprovação do Conselho de Segurança da ONU e de autorização do Congresso.