Título: Itamaraty terá dança das cadeiras
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2005, Nacional, p. A5

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim preparam a primeira dança das cadeiras em postos relevantes da diplomacia brasileira para meados deste ano. Dos sete embaixadores que deverão arrumar as malas, seis haviam sido nomeados para seus atuais cargos na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O principal deles, o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sérgio Amaral, deverá ceder a embaixada do Brasil em Paris para a subsecretária-geral de Assuntos Políticos do Itamaraty, Vera Pedrosa. Em outro ciclo, o pedido de demissão do ex-presidente Itamar Franco da embaixada em Roma libera o posto para o chefe da missão do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), Luiz Felipe de Seixas Corrêa. Crítico visceral do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva durante o governo anterior, Amaral foi beneficiado por um acordo entre Lula e Fernando Henrique, no final de 2002. O acerto previa a sua preservação em Paris por dois anos. Esgotado o prazo, Sérgio Amaral vem sendo apontado como o sucessor do embaixador Ivan Canabrava em Tóquio. Um dos mais experientes diplomatas do Itamaraty, Canabrava foi subsecretário de Assuntos Políticos no governo FHC e, neste ano, deverá ser destacado para a embaixada brasileira em Berlim, que hoje é o posto bilateral número um do Brasil na Europa. Essa mexida abriu a vaga de Paris para a embaixadora Vera Pedrosa, a primeira mulher na diplomacia brasileira a alcançar a façanha de ser nomeada, em 2004, subsecretária (o segundo posto mais elevado da carreira). Se confirmada, Vera Pedrosa deverá permanecer em Paris somente até o final do governo Lula, uma vez que completa 70 anos em 2006 e, como mandam as regras internas, deverá encerrar a carreira. No outro ciclo, a saída de Itamar Franco deixará oportunamente livre a embaixada do Brasil em Roma - um posto tradicionalmente reservado para embaixadores prestes a se aposentar, mas que acabou servindo de válvula de escape para nomeações políticas desde o final do governo FHC. Lula indicou um contrariado Itamar para o posto, em 2003, como meio de esquivar-se dos embaraços políticos que o ex-presidente poderia causar no início de seu governo. Sem Itamar, Roma poderá acomodar Seixas Corrêa, caso o diplomata venha a perder a disputa pela direção-geral da OMC, cuja sede está em Genebra. Descendente do barão do Rio Branco, o patrono da diplomacia brasileira, Seixas Corrêa foi secretário-geral das Relações Exteriores (o primeiro posto da carreira) e embaixador em Buenos Aires no governo FHC. Entretanto, quer ele perca ou não a competição na OMC, deverá deixar a missão do Brasil em Genebra nas mãos de seu colega Clodoaldo Hugueney, com quem idealizou e costurou a principal aliança entre os países em desenvolvimento para a Rodada Doha da OMC, o chamado G-20. Herança da era FHC, Hugueney adaptou-se bem à política externa de Lula-Amorim e, apesar de ter visto sua área original ser desmembrada no início de 2003, manteve-se como subsecretário de Assuntos Econômicos e como principal negociador do Brasil na OMC. Para fechar os dois ciclos, o embaixador do Brasil em Berlim, José Artur Denot Medeiros, terá obrigatoriamente de retornar ao Itamaraty, em Brasília, porque está prestes a cumprir dez anos de serviço no exterior - outra regra interna para os diplomatas. Ex-embaixador do Brasil na Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) durante o governo FHC, ele agora contaria com a oportunidade de escolher entre dois postos estratégicos do ministério - as subsecretarias-gerais de Assuntos Políticos e de Assuntos Econômicos. Um diplomata alertou ao Estado que esta ciranda tem sido apenas sussurrada nos corredores do ministério. Mas, "no Itamaraty, especulação sempre tem seu fundo de verdade", acrescentou a fonte. Recentemente, um dos boatos rendeu ganhos a quem apostou no seu acerto. Outro ex-secretário-geral do Itamaraty na era FHC, Osmar Chohfi, que havia sido nomeado para a embaixada em Madri no final do governo anterior, foi transferido por Lula para a missão do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington.