Título: Gil diz que Lula não tinha plano de governo
Autor: Beatriz Coelho Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2005, Nacional, p. A6

RIO - O ministro da Cultura, Gilberto Gil, afirmou ontem em solenidade na Caixa Econômica Federal (CEF), no Rio, que o atual governo não tinha um plano administrativo fechado para o País. "Nos acusaram de chegar ao governo sem planejar nada. Ainda que isso não seja totalmente verdade, é parcialmente verdade. E isso é bom. Porque não chegamos com uma visão fechada, verticalizada sobre as coisas. Pudemos aprender o que é o Brasil e o que é governar este país na sua contemporaneidade. Não foi diferente com outras áreas. Tivemos um aprendizado grande", disse. Gil esteve no Rio divulgando o resultado do programa Caixa de Adoção de Entidades Culturais, que distribuirá R$ 5 milhões a 28 instituições em 2005. Depois de dançar e cantar o choro Na Glória, com o o grupo Meninos de Marta, da favela Santa Marta, ele lembrou que as respostas da sociedade às ações do governo começam a aparecer agora. "Na área econômico-financeira, o governo praticamente atuou no primeiro ano sem respostas da sociedade, ou com respostas tímidas e cheias de reservas. No segundo ano, a resposta da sociedade foi mais firme e agora, no terceiro ano, ambos vão trabalhar cooperada e compartilhadamente", previu o ministro. "Há uma compreensão maior da proposta do governo e isso se repete em todas as áreas."

Gil voltou a afirmar que o projeto da Agência Nacional de Cinema e do Audiovisual (Ancinav) não tem prazo para ser enviado ao presidente da República para ser mandado ao Congresso Nacional. Ele admitiu que seu projeto divide os profissionais do setor, apesar de sua regulação ser uma reivindicação de mais de uma década. "Vem desde o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Iniciativas foram feitas insistentemente por Sérgio Motta, por Pimenta da Veiga e foram abortadas pela força política daqueles que são contrários e agora o fenômeno é o mesmo. As forças contrárias estão aí, só que as forças a favor aumentaram, não só por simpatia ao governo Lula, mas porque a necessidade de regulação do setor ficou cada vez mais dramática, com a questão da propriedade casada e a sinergia entre os diversos meios de comunicação", disse o ministro.

"Todas as manifestações a favor da Ancinav são importantes, até do mais desconhecido homem da rua até o grande produtor ou empresário de televisão. Assim como as manifestações contrárias, são todas representativas", disse ele, ressaltando que nem sempre os argumentos deste último grupo são verídicos. "Uma das alegações é de que a Ancinav interferiria na questão dos conteúdos e não tem nada no projeto que diga isso. Ela pretende regular os fluxos econômicos, a circulação dos bens culturais audiovisuais", esclareceu.