Título: Petistas reclamam que Lula impôs Greenhalgh
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - A nova crise interna vivida pelo PT por causa da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados é, como nas anteriores, um reflexo da interferência direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente do partido, José Genoino, nas decisões da bancada. De acordo com parlamentares ligados tanto a Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), candidato oficial, quanto a Virgílio Guimarães (MG), candidato dissidente, eles nem sequer tiveram o direito de votar num candidato. O nome de Greenhalgh foi imposto pela direção petista, que obedecia ordem do presidente Lula. Com isso, e como sempre acontece no PT, a crise interna se instalou no partido que, por natureza, é beligerante. E o que se convencionou chamar de fogo amigo ganhou mais um capítulo nos vários desde que o PT chegou ao poder, em janeiro de 2003. Naquele ano, o partido se autoflagelou durante a reforma da Previdência. Ainda em fase de adaptação no comando do País e com quatro dissidências estridentes, acabou por expulsar de seus quadros os deputados rebeldes João Batista de Araújo (PA), o Babá, João Fontes (SE) e Luciana Genro (RS), e a senadora Heloisa Helena (AL).

Os problemas vividos pelo PT por causa da presidência da Câmara começaram muito antes de o presidente Lula impor o nome de Greenhalgh aos seus pares. O próprio Lula e o ministro da Casa Civil, José Dirceu, lutaram pela reeleição do atual presidente, João Paulo Cunha (PT-SP).

Com isso, acreditavam que manteriam por mais dois anos à frente da Câmara o leal João Paulo e na do Senado o amigo e maior auxiliar de Lula na Casa, o senador José Sarney (PMDB-AP). Mas não contavam com a reação interna do PT. Quando a emenda foi votada, no início do ano passado, o deputado Paulo Delgado (PT-MG) subiu à tribuna e a arrasou: "Casuísmo e violência" foram alguns dos adjetivos que usou para derrotar o Planalto.

MÁGOAS

João Paulo, que admitiu ter sido seu maior erro envolver-se na questão, não quis mais votar a emenda da reeleição. Sem o cargo de presidente, ele começou a trabalhar para ser ministro. Foi incentivado por José Dirceu a buscar o lugar de Aldo Rebelo no Ministério da Coordenação Política. Mas no dia 30, ao cumprimentá-lo durante a cerimônia de sanção da lei que criou as parcerias público-privadas (PPPs), o presidente Lula descartou a possibilidade de chamá-lo para sua equipe.

"João Paulo, você é muito jovem, terá uma carreira política excepcional e vai perceber que quando a gente conquista o que você conquistou não precisa mais de cargo para ter importância", afirmou Lula. "Você vai virar uma figura importante mesmo sem ser deputado ou presidente da Câmara." Depois da solenidade, João Paulo disse em entrevista que não haveria problemas se não ganhasse um cargo no governo. "Estou bem na Câmara. O presidente pode continuar contando com o meu trabalho, o trabalho de um deputado simples", afirmou. Mas, de acordo com um deputado petista, daquele dia para a frente João Paulo transformou-se "num poço de mágoas".

Ele passou a trabalhar para fazer de Virgílio o candidato à sua sucessão. Mas o Planalto preferiu Greenhalgh. Dirceu, o grande aliado de João Paulo, estava de férias e não se envolveu na disputa. Conforme informação de assessores do presidente Lula, antes das férias Dirceu mostrara preferência por Arlindo Chinaglia (SP), atual líder do partido.