Título: Valor de empresa na Bolsa triplica
Autor: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2005, Economia, p. B4

RIO - O valor de mercado em dólar das companhias brasileiras negociadas no Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) disparou 180% nos dois primeiros anos do governo Lula. Dados da Economática revelam que o total em 2004 alcançou a marca de US$ 337,5 bilhões, quase o triplo dos US$ 120,3 bilhões no último dia de 2002. O destaque foram as siderúrgicas, com aumentos na casa dos 400% nos últimos dois anos. A Usiminas é um caso a parte. O valor de mercado da empresa pulou de US$ 399 milhões para US$ 4,4 bilhões, uma alta de 1.016% no período. As empresas exportadoras se beneficiaram do enfraquecimento internacional do dólar, que tornou os produtos brasileiros mais competitivos e os lucros mais polpudos. As ações com grande liquidez no pregão paulista, as chamadas "blue chips", também viram seu valor de mercado disparar. A Petrobrás, por exemplo, está avaliada atualmente em US$ 40 bilhões, bem acima dos US$ 14 bilhões apurados no fim de 2002.

Por causa da queda do dólar em relação ao real no período, o aumento no valor de mercado das empresas nacionais levantado pela Economática é mais significativo quando contabilizado na moeda americana. Mas analistas destacam que, mesmo em reais, o porcentual de crescimento também é expressivo e ultrapassa os 100%.

Motivos não faltam para explicar o bom desempenho das companhias no pregão paulista. Segundo o estrategista de ações da Corretora Ágora, Marco Melo, o Brasil voltou a entrar na rota do capital externo quando a credibilidade internacional do País se fortaleceu. O executivo dá como exemplo a forte queda do risco Brasil. O indicador de confiança dos estrangeiros no País, apurado pelo J.P. Morgan, chegou a passar dos 2 mil pontos no auge das incertezas provocadas pela chegada do PT ao poder. Hoje, o risco está em torno de 400 pontos.

A retomada do crescimento econômico é outro ingrediente importante no comportamento do valor de mercado das empresas listadas na Bovespa. Os últimos dados liberados pelo IBGE mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) acumula expansão de 5,3% até o terceiro trimestre de 2004. A estimativa é que o PIB tenha fechado o ano em torno dos 5%, no melhor desempenho desde 1994.

"O lucro das empresas se expandiu", afirma Melo. O executivo destaca ainda os avanços políticos conquistados pelo governo Lula, como a aprovação da reforma da Previdência e o início da discussão da reforma fiscal. "O que ocorreu foi uma conjunção de variáveis que favoreceram esse aumento."

Para o analista de investimentos da Máxima Corretora, André Querne, 2003 foi um ano de forte correção das distorções do ano anterior, especialmente durante o período pré-eleitoral. "O medo de um governo Lula diminuiu e o que se viu foi uma manutenção da política econômica. Já em 2004, a principal correção já tinha acontecido e o aumento foi motivado por fatores mais econômicos."

Querne trabalha com um cenário positivo para a economia brasileira este ano. Segundo ele, a expectativa de bons resultados no setor produtivo deve impulsionar novamente a Bovespa. A Ágora acredita que os investimentos em renda variável devem liderar o ranking das aplicações também este ano. Entretanto, o executivo da Máxima vê incertezas no caminho, como o comportamento da taxa de juros nos Estados Unidos. Um aumento mais agressivo poderia reduzir o ritmo de crescimento da economia mundial e também travar a retomada brasileira.