Título: Jarbas: Nilmário incentiva invasões
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2004, Nacional, p. A10

Governador de Pernambuco chama de 'destemperadas' declarações de secretário de que o Estado não contém violência no campo. RECIFE - O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), considerou "lamentável" que o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, tenha ido ao Estado no fim de semana para "terminar incentivando invasões de terra". Para o governador, as "declarações destemperadas" de Nilmário só agravam a situação em Pernambuco. Jarbas se referiu às declarações do secretário de que o governo estadual não tem conseguido conter a violência no meio rural. Uma das conseqüências disso teria sido o assassinato de três trabalhadores rurais, na semana passada - um no município de São José da Coroa Grande, no litoral sul, e dois em Passira, na região do Agreste.

Nilmário viajou para a região para participar do funeral dos trabalhadores e prometeu acompanhar pessoalmente as investigações. Também lembrou que existe a possibilidade de investigações desse tipo serem federalizadas.

Ao rebater o ministro, Jarbas criticou o fato de ele ter se referido apenas aos assassinatos, sem condenar o vandalismo dos militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST). Eles depredaram a sede da Fazenda Recreio, em Passira, que está no centro das discussão entre fazendeiros e sem-terra.

Segundo Nilmário, a depredação seria resultado da emoção causada pelos assassinatos. Para o governador, tanto as mortes como o vandalismo e as invasões "são fatos lamentáveis, condenáveis, e em nada ajudam o processo de reforma agrária".

Jarbas disse ainda que a causa real dos conflitos é a demora do governo federal na execução da reforma agrária. "Mas eu nunca saí por aí culpando o governo federal."

AQUÉM DA DEMANDA

O ouvidor agrário nacional, Gercino Silva, confirmou que a reforma agrária no Estado tem sido morosa, devido a dificuldades na desapropriação de terras. "Em 2004, a reforma ficou aquém da demanda", admitiu. "Isso acirra os ânimos dos movimentos sociais."

Silva disse também que o governo federal condena ações fora da legalidade. Ele citou especificamente casos em que os integrantes dos movimentos depredam propriedades, matam gado e mantêm pessoas como reféns.

Pelas metas do Plano Nacional de Reforma Agrária, neste ano deveriam ter sido assentadas 6,6 mil em Pernambuco. Até agora, porém, foram assentadas 507.

O Estado encabeça todas as estatísticas da ouvidoria sobre conflitos. Até novembro, Pernambuco registrou 76 invasões, o que representa 24% das 312 ocorridas no País, e 5 das 18 mortes decorrentes de conflitos agrários.

Até o ano passado, Pernambuco tinha 242 acampamentos, organizados por 15 movimentos, com 30 mil famílias. Neste ano o número subiu para 318