Título: PF fará devassa em áreas de conflitos
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2004, Nacional, p. A11

Medida, tomada após morte de três sem-terra em Pernambuco, visa a desarmar fazendeiros e movimentos sociais. RECIFE - O delegado de Homicídios, Roberto Geraldo, foi designado para investigar os assassinatos dos dois sem-terra ligados ao MST, ocorrido na sexta-feira, no município de Passira. O promotor agrário do Ministério Público Estadual, Édson Guerra, solicitou à Justiça quatro mandados de prisão de suspeitos dos crimes. Nove áreas de conflito agrário em cinco municípios - Passira e Bonito (agreste), Ouricuri (sertão), Ipojuca e Amarají (zona da mata) - serão investigadas pela Polícia Federal e Polícia Civil, visando ao eventual desarmamento de proprietários e também de movimentos sociais. O inquérito policial a ser instaurado vai apurar tanto o assassinato de Edeílson da Rocha, 36 anos, e Francisco Manoel de Lima, 27, como a depredação da Fazenda Recreio, reivindicada pelo movimento para reforma agrária e palco de vandalismo depois do enterro das duas vítimas, no sábado. Estas foram as principais providências tomadas ontem pelo Comitê Interinstitucional de Reforma Agrária e Combate à Violência, depois de uma reunião de três horas no Ministério Público Estadual, no Recife. Para o ouvidor agrário nacional, Gercino Silva, as medidas são suficientes para "acalmar os ânimos". Ele propôs a criação de uma vara agrária e delegacia agrária - além da promotoria agrária já existente no Estado - para que a Justiça não tome suas decisões antes de ouvir o Ministério Público e o Incra no caso de questões de terra, buscando saber não somente se a terra em questão é produtiva, como se cumpre sua função social. O representante da direção estadual do MST-PE, Joba Alves, considerou o resultado da reunião como "uma ação diferenciada", mas considera cedo para avaliar. Primeiro quer ver a concretização do que foi a anunciado. O diretor da Polícia Federal, Wilson Damázio, disse que Pernambuco e Minas Gerais serão prioridade no trabalho de desarmamento nacional a ser realizado em todas as áreas de conflito no País. Novas reuniões irão especificar os trabalhos a serem realizados em cada área.

ÁREAS

Duas novas áreas de conflito foram indicadas ontem ao Ministério Público Estadual. Em Amarají, o MST afirmou que anteontem, 150 famílias foram despejados a tiros por cerca de 10 "pistoleiros" na Usina Bonfim Agroindustrial. E no remanescente de quilombo de Conceição das Creoulas, em Salgueiro (sertão), a sede da associação foi parcialmente incendiada. A denúncia foi feita por uma das líderes no local, Maria Aparecida Mendes da Silva. A área pertencente ao remanescente de quilombo está sendo demarcada pelo Incra, o que tem provocado, segundo ela, a reação de fazendeiros.