Título: Aumenta a confiança dos argentinos em seu país
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2004, Internacional, p. A17

BUENOS AIRES - Há três anos, a autoconfiança dos argentinos estava arrasada. O país estava mergulhado na maior crise financeira, econômica e social de sua história. De quebra, nos 12 dias que se seguiram à queda do ex-presidente Fernando de la Rúa (20 de dezembro de 2001), a Argentina teve uma seqüência de quatro novos presidentes. Os partidos políticos e as instituições estavam desacreditadas; a economia, paralisada; nos aeroportos, milhares de desesperados argentinos faziam fila para emigrar. Três anos depois, a pior parte da crise já passou e os argentinos voltam a confiar em seu país. Uma pesquisa realizada pela Gallup para o jornal La Nación indicou que 19% dos entrevistados emigrariam se pudessem. Entre os universitários, a proporção sobe para 30%. Embora a proporção ainda seja elevada, o dado indica uma queda em relação a janeiro de 2002, quando 26% dos argentinos desejavam abandonar a Argentina.

Os dados da pesquisa da Gallup mostram que o desejo desesperado de emigrar do país não começou em dezembro de 2001, mas em meados dos anos 90, durante o governo do ex-presidente Carlos Menem (1989-99), quando a pobreza - fenômeno pouco conhecido dos argentinos nas décadas anteriores - começou sua escalada. Em 1996, segundo a pesquisa, 16% dos argentinos queriam deixar o país. Em março de 2001, eram 21%.

A melhoria gradual na situação econômica do país reduziu a ansiedade em emigrar. Ao longo dos últimos dois anos o desemprego caiu e a pobreza teve um leve retrocesso. O setor industrial está se recuperando, as exportações crescem.

Com este cenário, muitos argentinos que emigraram estão retornando ao país. Segundo a ONG Atennna Italiana del Mondo, 80% dos argentinos que se instalaram na Itália nos últimos três anos com passaporte italiano já voltaram para a Argentina. Mas, o retorno não seria somente por causa da recuperação do país, afirmam os analistas. Muitos argentinos voltam porque perceberam que conseguir trabalho na Europa não é tão fácil como imaginavam.

Milhares de pessoas marcharam ontem pelas ruas da capital argentina para recordar o terceiro aniversário da queda do governo De la Rúa (1999-2001) e homenagear as cinco pessoas que morreram na ocasião nos choques com a polícia na Praça de Maio.

No dia 19 de dezembro de 2001, milhares de pessoas fizeram panelaços em todo o país, pedindo a renúncia do ministro da Economia, o impopular Domingo Cavallo. No dia seguinte, com a renúncia de Cavallo, os panelaços continuaram, desta vez, pedindo a saída de De la Rúa, que renunciou após sangrentos choques entre manifestantes e as forças de segurança.

Ontem, organizações de desempregados, sindicatos, centros de estudantes e grupos de defesa dos direitos humanos pediram aumento salarial, o não-pagamento da dívida externa e a retirada das tropas argentinas do Haiti.

De manhã, uma bomba explodiu - sem causar feridos - na frente do Banco HSBC no bairro de Balvanera. As paredes do banco foram pichadas com a frase "HSBC assassino, 20 de dezembro", referência ao dia em que os seguranças da agência da Praça de Maio dispararam contra a multidão que fugia dos policiais que reprimiam as manifestações na frente da Casa Rosada.