Título: Furlan alerta para perigo do real forte
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2004, Economia, p. B1

RIO - O recuo da cotação do dólar em relação ao real vai frear o crescimento das exportações e o saldo da balança comercial no ano que vem. A análise foi feita ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Em 2005, estimou, a ascensão das vendas externas não deverá repetir a alta de 20% apurada em 2003, nem a elevação de 30% prevista para este ano, que registrará o total de exportações de US$ 94 bilhões. Para o ano que vem, o resultado previsto é de US$ 100 bilhões. O saldo comercial do País (exportações menos importações) no próximo ano deverá ficar em torno de US$ 20 bilhões, mesmo resultado esperado para 2006, disse o ministro. Esse total, no entanto, representa queda de 37,5% ante os US$ 32 bilhões de saldo projetado para este ano. Parte desse resultado, conta Furlan, pode ser explicado pela conjuntura internacional menos favorável para as commodities agrícolas e a desvalorização do dólar. "O cenário do comportamento da taxa de câmbio pode determinar um crescimento menor das exportações brasileiras", reconhece o ministro. Segundo ele, muitos setores da economia já estão revendo planos de exportação "porque perderam rentabilidade na equação atual de custos e receita cambial".

Para ele, a cotação ideal do dólar, para que haja crescimento maior das vendas externas, seria em torno de R$ 3. "A meta dos US$ 100 bilhões nós estamos mantendo, porque abrimos muitos países, muitos mercados e novos setores. Mesmo que alguns segmentos reduzam, outros estarão suprindo, agora não na velocidade de crescimento que estamos tendo em 2004", afirmou o ministro. Este ano, lembrou, exportações e importações registram crescimento "simétrico", de 30% e 28%, respectivamente.

O aumento da representatividade do comércio exterior no Produto Interno Bruto (PIB) poderá reduzir o risco país e os juros, na avaliação de Furlan. "Estamos caminhando para que essa relação salte de patamares históricos, entre 15% e 20% do PIB, para um número próximo a 30% do PIB", estimou. Este ano, a corrente de comércio brasileira deverá ser de US$ 156 bilhões, com um PIB que, segundo calculou, ficará em torno de US$ 500 bilhões, o que já resulta num índice entre 28% e 30% do PIB."Isso nos dará condição de termos menor risco, menor taxa de juros internacional e, portanto, menores taxas de juros no mercado interno."

Furlan acredita que o Brasil tem condições de quebrar a barreira de 400 pontos de risco país, ao reduzir esse índice para 300 pontos no ano que vem e, em 2006, para 200 pontos.

ACORDOS

O acordo entre Mercosul e União Européia deverá ser finalizado no ano que vem. A discussão da Alca, no entanto, ainda depende de novo cronograma, informou o ministro. Sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), Furlan disse que recentemente o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, esteve em contato com o representante comercial dos Estados Unidos, Robert Zoellick, para iniciar novas discussões e elaborar uma agenda com a nova equipe de governo americana. "Espero que recupere o tempo perdido", disse Furlan, que participou ontem de almoço na Associação Comercial do Rio de Janeiro.