Título: Superávit externo passa de US$ 10 bi
Autor: Sheila D'AmorimGustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2004, Economia, p. B4

BRASÍLIA - Mesmo com o crescimento da economia impulsionando os gastos com importações neste fim de ano, o Brasil deverá encerrar 2004 com saldo positivo acima do previsto nas transações com o exterior. O Banco Central (BC) elevou de US$ 9,2 bilhões para US$ 10,7 bilhões a projeção de superávit em conta corrente este ano, um recorde. Na prática, isso significa que todas as despesas com compras de mercadorias importadas, contratação de serviços estrangeiros, pagamento de juros e remessas de lucros ao exterior serão compensadas por receitas obtidas principalmente com as venda de produtos brasileiros lá fora e ainda sobrarão recursos para o País. No mês passado, o resultado dessa conta foi negativo, com déficit de US$ 242 milhões.

O que justificou esse desempenho em novembro, segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, foi a combinação de queda nas exportações em relação a outubro, com aumento das importações no período e maiores gastos com juros. Só ao Fundo Monetário Internacional (FMI) foram pagos US$ 319 milhões, referentes aos empréstimos tomados até o ano passado. As remessas de lucros e dividendos ao exterior também pressionaram. No mês passado, elas somaram US$ 962 milhões.

É a segunda vez, neste ano, que o saldo mensal das transações correntes foi deficitário. Em abril o resultado foi negativo em US$ 776 milhões. Desde o início da gestão Lula, as transações correntes fecharam deficitárias em apenas 5 meses, sempre por causa do desempenho recorde da balança comercial, impulsionado pelo crescimento das exportações.

Em dezembro, nos cálculos do BC, o País voltará a registrar superávit nas contas externas. Neste mês, não há concentração de pagamentos de juros ao FMI e de bônus emitidos nos últimos anos pela República. As remessas de lucros e dividendos também serão menores. Até ontem, elas somavam US$ 314 milhões e os gastos com juros, US$ 669 milhões ante US$ 1,1 bilhão em novembro. Com isso, mesmo com maior volume de importações, as vendas externas serão suficientes para garantir superávit em conta corrente de US$ 300 milhões.

Mas, em 2005, o ritmo de expansão das exportações não deverá ser tão elevado. Com maior crescimento econômico, o País deverá importar mais. Com isso, o BC acredita que o saldo nas contas externas no ano será próximo de zero. Mesmo projetando equilíbrio nas contas externas, o País deverá registrar perdas de US$ 9,7 bilhões nas reservas internacionais, espécie de poupança pública. Projeção feita anteriormente pelo BC era de queda de US$ 8,4 bilhões. A mudança se deve, sobretudo, aos gastos com serviços e amortizações de dívidas.

BC vê recuperação do investimento estrangeiro em 2005

APOSTA: Apesar das dúvidas sobre o desempenho da economia norte-americana e seus reflexos para o mundo, o governo brasileiro acredita que 2005 será um ano de recuperação dos investimentos estrangeiros diretos. Este ano, dos US$ 17 bilhões estimados pelo Banco Central (BC), US$ 16,4 bilhões já ingressaram no País. O governo aposta que os US$ 14 bilhões projetados para o ano que vem serão superados. "Já arrisco dizer que a projeção para 2005 é conservadora", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Segundo ele, depois da instabilidade do início do ano por causa dos juros nos EUA, boa parte dos investidores procura locais seguros e rentáveis. "Dentro das economias emergentes, o Brasil tem posição privilegiada. Continuaremos fortes no páreo em 2005", diz Lopes, reconhecendo que a China é um concorrente de peso. Mas, para ele, com os indicadores recentes de crescimento da economia brasileira, "é natural que os investidores fluam para o País".

O dinheiro, na avaliação do BC, deverá reforçar os investimentos no aumento da capacidade produtiva do País.